O homem é o ser delirante

ECBD

Criador de valores, o homem é o ser delirante por excelência, vítima da crença de que algo existe, enquanto que lhe basta reter sua respiração: tudo se detém; suspender suas emoções: nada vibra mais; suprimir seus caprichos: tudo se torna opaco. A realidade é uma criação de nossos excessos, de nossos exageros e de nossos desregramentos. Um freio em nossas palpitações: o curso do mundo torna-se mais lento; sem nossos ardores, o espaço é de gelo. O próprio tempo só transcorre porque nossos desejos engendram este universo decorativo que uma gota de lucidez desnudaria. Um grão de clarividência nos reduz à nossa condição primordial: a nudez; uma ponta de ironia nos despe desse disfarce de esperanças que permite que nos enganemos e imaginemos a ilusão: todo caminho contrário leva para fora da vida. O tédio é apenas o começo desse itinerário… Ele nos faz sentir o tempo demasiado longo – inapto para revelar-nos um fim. Separados de todo objeto, não tendo nada que assimilar do exterior, nos destruímos em câmara lenta, já que o futuro deixou de oferecer-nos uma razão de ser.