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Richard Rorty entende inserir-se na tradição pragmatista norte-americana. Mas seu pragmatismo é bem diferente daquele do fundador dessa corrente, C. S. Pierce. Espero não ser muito infiel às teses do pragmatismo rortyano sobre a verdade, esquematizando-os da seguinte maneira: 1
1) A noção de verdade não tem um uso explicativo, não recobre nenhuma essência, nenhuma substância, e não designa nenhuma propriedade substancial ou metafísica profunda, nem um objeto (o Verdadeiro).
2) Particularmente, são vazios de sentido a noção realista tradicional de verdade como correspondência de nossos enunciados, juízos ou proposições com a realidade ou “os fatos” e, em geral, toda teoria do pensamento como representação da realidade.
3) Por conseguinte, são vazios os debates em torno do realismo contra o anti-realismo, que agitam ainda grande parte da filosofia analítica contemporânea.
4) O problema não é tornar verdadeiros nossos enunciados, mas justificá-los, e não há distinção a ser feita entre verdade e justificação. A justificação nada mais é do que o acordo entre os membros de um grupo ou de uma comunidade, e não há acordo último, final ou de convergência ideal dos enunciados.
5) Sendo vazio o conceito de verdade, a verdade não pode ser uma norma da investigação científica ou filosófica, ou o fim último de nossas pesquisas. A fortiori, ela não pode mais ser um valor.
6) Do fato de se rejeitarem essas noções míticas da verdade não decorre que nada haja a dizer do mundo: há entre o mundo e nós relações causais, que podemos estudar. Mas seria igualmente vão esperar obter uma teoria naturalista reducionista da representação e da racionalidade.
7) O fato de a objetividade e de a verdade não contarem não significa que inexistam certos valores a defender; os valores em questão são aqueles promovidos habitualmente pela tradição pragmatista, os da solidariedade, da tolerância, da liberdade e do senso de comunidade.
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- Sobre essas teses, ver particularmente ‘‘Pragmatism. Davidson and Truth [Pragmatismo, Davidson e Verdade]. Le Pore (Ed.) Truth and Interpretation [Verdade e interpretação], Oxford Blackwell 1985, trad. fr. Science et solidarité [Ciência e solidariedade]. Combas, L’Éclat. 1990[
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- Pour une analyse des différences, cf. C. Tiercelin, «Un pragmatisme conséquent ? », in Critique, n° 567-568, 1994, Jacques Bouvtreresse, parcours d’un combattant, pp. 642-660.[
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- Sur ces thèses, voir en particulier « Pragmatism, Davidson and Truth », in Le Pore, ed., Truth and Interpretation, Oxford, Blackwell, 1985, trad. fr. in Science et solidarité, Combas, L’Eclat, 1990.[
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- Les analyses de Russell sur la théorie pragmatiste de la vérité dans ses Essais philosophiques (1910), trad. fr. Paris, PUF, 1997, demeurent irremplaçables.[
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