Aristóteles (A:3.2, 425b26-426a26) – percepção e percebido

Gomes dos Reis

425b26. A atividade do objeto perceptível e da percepção sensível são uma e a mesma, embora para elas o ser não seja o mesmo (quer dizer, o som em atividade e a audição em atividade, por exemplo). Pois é possível o que tem audição não estar ouvindo, e o que tem som nem sempre soa. Mas quando o que pode ouvir está em atividade e o que pode soar soa, então a audição em atividade ocorre simultaneamente ao som em atividade (e uma delas podería ser chamada de ato de ouvir e a outra de sonância). Se o movimento — a saber, a produção [e a afecção] — se dá naquele em que é produzido, há necessidade de dar-se na audição em potência tanto o som como a audição em atividade. Pois a atividade do capaz de produzir e de mover ocorre naquele que é afetado, pelo que não há necessidade de mover-se o que faz mover. A atividade do capaz de soar, então, é som ou sonância, e a do capaz de ouvir é audição ou ato de ouvir; pois há a audição de dois modos, bem como o som. O mesmo argumento se aplica no caso dos demais sentidos e objetos perceptíveis. Pois tal como a produção e a afecção ocorrem no que é afetado e não no que produz, assim também a atividade do objeto perceptível e do capaz de perceber dá-se no capaz de perceber. Mas, em alguns casos, há denominação própria (por exemplo, sonância e audição), em outros não há denominação; pois a atividade dos olhos é chamada de visão, ao passo que a da cor não tem nome; e é chamada de gustação a do que é capaz de degustar, mas tampouco tem nome a atividade do sabor.

426a15. Já que a atividade do perceptível e a do capaz de perceber são uma única, embora o ser seja diverso, há necessidade de simultaneamente destruírem-se ou conservarem-se o som e a audição ditos daquele modo, o sabor e a gustação e assim por diante. Mas enquanto ditos em potência, não há necessidade. Os antigos fisiólogos não enunciaram isso bem ao supor que não há nada — nem branco, nem preto — sem a visão, tampouco sabor sem a gustação. Por um lado, enunciaram corretamente, mas, por outro, não. Pois como de dois modos se diz a percepção sensível [106] e o objeto perceptível — em potência e em atividade —, o enunciado procede no segundo caso, mas não no primeiro. Eles enunciaram de maneira simples o que não se enuncia de maneira simples.

Alan Lacey

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