Markus Gabriel (MGCérebro) – Teoria da Evolução

É, de fato, uma circunstância digna de nota que estejamos em posição de compreender a natureza. Pode-se considerar isso verdadeiramente espantoso, pois não há, de todo modo, indícios de que a natureza tenha literalmente contado com que se desenvolvessem seres vivos dotados de espírito [geistige] que começassem a decifrar as leis da natureza. Que existam seres vivos dotados de espírito não parece, de todo modo, necessário, quer dizer, nós poderíamos facilmente imaginar um caminho alternativo da evolução de seres vivos em nosso planeta, no qual seres dotados de espírito, que tentam de algum modo compreender a natureza e o seu próprio lugar nela, jamais teriam surgido.

Certamente, já é enganoso quando se fala aqui que a evolução teria produzido seres vivos espirituais. “A evolução” é, afinal, simplesmente o nome para processos de surgimento de espécies que são descritos por meio da Teoria da Evolução. Não é o caso que se trate, na evolução, de um “relojoeiro cego”, como Richard Dawkins chamou a isso em seu livro de mesmo nome. Isso porque a evolução não é nem um relojoeiro nem qualquer outro tipo de artesão, pois ela não é nem um sujeito nem alguma outra pessoa com intenções cegas, mas sim simplesmente o nome sintético para complexos processos de surgimento de espécies que se deixam explicar melhor com o auxílio da Teoria da Evolução do que com qualquer outra alternativa existente até então.

Todavia, lê-se às vezes que a evolução faria isso ou aquilo ou teria levado a isso ou aquilo. Isso é absurdo, uma vez que a evolução não leva a nada. No máximo, por exemplo, mutações genéticas causadas por meio da radiação advinda do cosmos, assim como por outros processos naturais que ocorrem na divisão de células, levam a que fenótipos mudem, ou seja, a forma de manifestação exterior de seres vivos de determinada espécie. Se o seu mundo também muda de algum modo – isso podendo ir até grandes mudanças catastróficas que atingiram repetidamente a Terra – talvez os seres vivos com genes mutantes sobreviverão e se reproduzirão, e assim por diante. As ideias fundamentais do darwinismo são conhecidas.

A expressão “a evolução” leva facilmente a supor que os processos estão conectados como se houvesse uma intenção, apenas, justamente, uma intenção cega, como a sobrevivência de indivíduos e espécies. Mas, assim, coloca-se novamente a evolução, contra a vontade, como um processo conduzido intencionalmente, por exemplo, como batalha pela sobrevivência. O progresso decisivo da biologia da evolução em relação a tentativas mais antigas de explicação da origem das espécies também consiste, porém, em que a biologia da evolução justamente consiga fazê-lo sem qualquer suposição de intenções. Por meio do progresso da biologia e de saltos enormes como a prova do DNA e a sua decodificação no último século, se tornou claro que se pode deixar de lado relojoeiros cegos. A Teoria da Evolução não precisa de tais metáforas, que simplesmente dão conta da necessidade de se colocar, no lugar do antigo Deus cheio de intenções, pelo menos um Deus substituto: o relojoeiro cego ou a evolução.

(MGCérebro)

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