“Falo de instinto quando algum juízo (gosto [Geschmack] em seu mais baixo degrau) é incorporado (einverleibt); de modo que ele agora excita espontaneamente a si mesmo, e não precisa mais esperar por estímulos. Ele tem seu crescimento por si, e por consequência também seu senso de atividade (Thätigkeits-Sinn) impelindo para fora. Estágio intermediário: o semi-instinto, que só reage a estímulos, e além disso é morto”.[[Nietzsche, F. Fragmento inédito n° 11 [164], da primavera — outono de 1881. In: KSA, op. cit., vol. 9, p. 505.]]
Nietzsche tem em vista, portanto, um campo semântico muito amplo, no interior de sua concepção própria de instinto tanto se aproxima quanto se distancia da acepção etimológica original do termo — derivado do latim instinctus — us; instinguere, no sentido de excitar, instigar. Stricto sensu, instintos são impulsos ou tendências que, nos [61] homens e nos animais, provocam ações ou comportamentos consistentes em respostas ou reações substancialmente fixas e imediatas a determinadas situações. Nos seres humanos, em particular, instintos são propensões naturais que, independentemente da razão, impelem os indivíduos a realizar certos atos ou a seguir determinados comportamentos próprios de sua própria espécie, e, eventualmente, comuns a outras espécies: p. ex.: instinto de conservação; instinto sexual. Lato sensu, instinto designa a inclinação ou disposição de ânimo estável, a índole ou o temperamento, a natureza particular de um indivíduo.
[(Em etologia, o termo passou a indicar o conjunto daqueles comportamentos altamente específicos e hereditários, organizados em sequências ordenadas, (em parte modificáveis por meio de aprendizado) que, desencadeados e endereçados a partir de estímulos internos ou externos, têm como finalidade imediata a remoção de uma tensão somática ou de um estado de excitação, e concorrem para a conservação do indivíduo ou da espécie. Em Psicologia, o termo significa esquema de comportamento biologicamente determinado, orientado para determinados fins e relativamente pouco suscetível de variação individual, por vezes de elevada complexidade e caracterizado por correlações específicas inter-individuais e ambientais. Ref: Treccani. Enciclopédia Italiana di Scienze, Lettere ed Arti. Dada a relevância semântica que conserva para a terapia dos afetos nietzschiana, cabe mencionar a diferença entre instinto e pulsão, do latim tardio pulsio-onis:empuxar, expulsar, enxotar. Pulsão seria, então, em estrito sentido mecânico e concreto, empuxo, impulso, força impulsiva. Em particular na língua alemã, Trieb remete a treiben, e mantém estrita ligação com essa derivação. É em sentido figurado que o termo migra para a psiquiatria, passando a designar uma moção endógena de força, a impulsão ou empuxo derivado de processos psíquicos determinados por necessidades, volições, apetições, carências; tal como analogamente, em Psicanálise, ‘pulsões’ é termo que designa processos dinâmicos, vitais, de origem somática, transpostos para a psique e ligados a uma meta (finalidade ou destino), que, diferentemente dos instintos, não são rígida e univocamente determinadas. Trata-se, portanto, de um termo comportando acepções muito semelhantes ao conceito de instinto, tal com o emprega Nietzsche.)]