Santos Simbolismo 7

TEMA V
ARTIGO 8 – O SETENÁRIO
Se partirmos das Pitágorascategorias pitagóricas, vemos que, da substância universal, por diferenciação, surge o Dois – binário, duas modalidades de ser que já estudamos.

Essas duas positividades em oposição são por sua vez uma, que é predominantemente ativa, determinante, e outra, que é predominantemente passiva, determinável. O esquema abaixo coloca bem o que acabamos de dizer:

No pitagorismo, o sete tende, como significabilidade, a apontar a graduação qualitativa do ser finito.

Se examinarmos a simbólica dos diversos mitos, e a que se refere ao pensamento de todos os povos, encontramos o sete presente em tudo quanto indique uma seriação progressiva. Se tomarmos a tríade com as cores fundamentais: vermelho, amarelo e azul, vemos que todas as outras são provenientes de tons resultantes das combinações dessas três cores.

Pondo em primeiro lugar o vermelho fundamental, entre o vermelho e o amarelo encontramos uma cor intermediária, que é o laranja; o verde como intermediário entre o amarelo e o azul. Quinto, o azul como cor fundamental, sexto o índigo, que é um desdobramento do azul, e sétimo o violeta, intermediário entre o azul e o vermelho.

Sabemos que a ordenação da semana em sete dias não é arbitrária, pois, nesse período, se dá a passagem de uma fase da lua para outra. Encontramos ainda o sete nas idades humanas, pois o homem sofre modificações de sete em sete anos, que correspondem às idades, de sete, quatorze, vinte e um, etc., sobre as quais se detiveram em estudá-las muitos cientistas. Não é arbitrária a maioridade de vinte e um anos, pois é a completude do primeiro ternário de sete. Os matemáticos, ao estudar as possibilidades do número sete, verificaram nele combinações interessantíssimas.

Como todo número ímpar, o sete expressa uma ação, uma transição. E é nesse sentido que ele nos surge na simbólica universal.

O sistema planetário dos hermetistas é uma organização setenária, estática e dinamicamente considerada.

1) o Sol, centro do sistema e planeta principal, é a causa primeira da vida; ativo, másculo, enérgico. (No sentido aristotélico do termo, ato), que emite seus raios vivificadores, que se expandem. É o símbolo do poder supremo do ser supremo, da Vontade. Para termos a vivência dessa Vontade, como atributo de Ser supremo, examinemos em nós a vontade que delibera e ordena fazermos isto ou aquilo.

Nosso corpo obedece, sem que a ação do corpo seja uma modal da vontade, mas uma modal do corpo. A vontade ordena, e é obedecida, sem que seu ato se escoe na ação. Ela dele se distingue como uma tensão, em ato portanto, que indica, aponta o vetor a seguir. É causa eficiente, mas a ação é do quod que atua. Ordeno ao meu braço escrever. A ação de escrever é do meu braço, mas a causa eficiente desse ato foi a minha vontade. Ela não se escoa na ação do braço, porque esta ação não é uma transformação da minha vontade.

É símbolo da unidade e pode ser simbolizado pelo ponto central de uma circunferência. Recebe muitas outras simbolizações, como vemos nos heróis solares, halos luminosos, cabelos soltos, águias de asas como raios, círculos de fogo, como nos hindus, etc.

Em todas as religiões, os heróis messiânicos, fundadores de religiões, são heróis solares, todos têm sinais que apontam ao Sol, ao Sol resplandecente, que não se pode fitar. Assim o Ser Supremo, que escapa aos nossos sentidos, cega-nos com a sua presença. Não suportaríamos a sua luz. A águia, por voar em direção ao sol e por fitá-lo, é o símbolo do pensamento que transcende à imanência e penetra no campo das coisas divinas. O Sol é o símbolo mais universal do Ser Supremo, tomado pela sua atividade e pela sua masculinidade.

2) A Lua – É o símbolo do feminino e passivo, pois ela reflete a luz solar. A instabilidade de suas fases aponta à instabilidade, à mutação, à informação. Simboliza o princípio passivo, potencial, a determinabilidade, que recebe as determinações do ato, que recebe as formas. No crescente lunar, fecundada pela vontade Solar, ela realiza-se como mãe no Plenilúnio, para dar nascimento ao quarto crescente, e repetir o ciclo da gestação e do nascimento.

Em geral, é apresentada no crescente lunar, côncava e convexa, dúplice numa simbólica do binário também, do determinante convexo e do determinável côncavo.

Por isso, para os hermetistas, é símbolo do segundo Logos, assim como o Sol o é do primeiro.

3) Mercúrio – Não deve ser confundido com o deus greco-romano, que é binário, hermafrodita. Mercúrio, astrologicamente considerado, é neutro e equilibrado. Portanto, há nele uma natureza complexa. Surge da Vontade solar e da Imaginação lunar. Corresponde ao três; é ternário. No símbolo zodiacal, vemos o círculo solar e o crescente lunar sobre uma cruz, símbolo do quaternário. Sol, Lua e Mercúrio formam o ternário (nos egípcios Osíris, Ísis e Horus).

4) Marte – É o símbolo do choque dos contrários, da violência. É um símbolo do poder solar, quando violento e vencedor do oposto. Também a brutalidade, a destruição. No zodíaco é simbolizado pelo circulo solar e pela cruz que o encima, símbolo do quaternário. É o poder solar (o poder do ser), manifestado no quaternário.

5) Vênus – É representada pelo disco solar, com a cruz do quaternário. É o poder criador fecundando o quaternário. Em Marte, o quaternário sobrepõe-se ao criador, e é por isso destrutivo; em Vênus é o criador que se sobrepõe ao quaternário. Marte e Vênus são antagonistas. A violência, desordem, a destruição de um lado, e a bondade, a mansidão, o amor do outro. Vênus é, na astrologia, feminina, mas é mais o símbolo da Anima, no sentido gnóstico e no de Jung, a qual normalmente predomina na mulher.

6) Júpiter – O símbolo zodiacal no-lo indica coro o crescente lunar, de cujo vértice inferior estende-se o quaternário. Procedendo da lua, é Júpiter passivo de certo modo, mas ativo, porque, na simbólica antiga, a cruz se colocava ao lado. Indicaria, assim, a plasticidade como potência.

Fecundidade e potência, equilíbrio entre as partes, símbolo também da justiça.

7) Saturno – Na simbólica zodiacal, Saturno é encimado pela cruz apoiada num dos vértices da lua crescente. É o domínio das forças terrestres, quaternárias sobre a passividade. É ativo e masculino, mas sua ação se realiza na destruição refletida. Está em oposição a Júpiter. Caracterologicamente o saturniano é o tipo introvertido, retraída fisiognomonicamente, de cor sombria, com muitas sombras no rosto, excesso de bossas, etc.

No catolicismo o sete está presente nas virtudes cristãs as virtudes teologais que são três: , Esperança e Caridade, e as cardinais (do quaternário): Fôrça, Temperança, Justiça e Prudência.

Sete são os pecados capitais: Orgulho, Preguiça, Inveja, Cólera, Luxúria, Gula e Avareza.

O pecado faz-nos transitar de uma situação para outra, e a virtude também, porque nos coloca num estado diferente.

Sete são os sacramentos: Batismo, Eucaristia, Ordenação, Confirmação, Casamento, Penitência, Extrema Unção. Encontramos ainda o sete na Bíblia em diversas passagens: os sete anos que Jacob serviu a Labão (os sete anos da iniciação), e recebeu Lia e não Raquel. Necessitava cumprir o segundo período setenário para alcançá-la. Sete demônios, sete altares (os sete tabernáculos), sete trombetas de Jericó. Jesus pronuncia, quando crucificado, sete frases. No Apocalipse, há sete candelabros, sete estrelas, sete selos, sete cornos, sete olhos, sete espíritos, sete pragas, sete raios.

Sete foram os pares de animais impuros e 7 os animais puros de Noé, e 7 os seus filhos. Sete vacas magras e sete vacas gordas, as de José, etc.

Philon – Filão nos dizia: “O número 7 é o primeiro a partir do número perfeito 6, e, de certa maneira, idêntico à unidade. Os números que estão na década, ou são engendrados, ou engendram aqueles, que estão na década ou a própria década; mas o hebdômado não engendra nenhum dos números da década, nem é engendrado por eles. Assim em seus Mistérios, os Pitagóricos, o assinalam à deusa sempre virgem e mãe, porque ela não foi gerada e não gerará.”

Agostinho de Hipona – Santo Agostinho via no 7 o símbolo da perfeição da Plenitude, e Ambrósio de Milão – Santo Ambrósio, o da virgindade.

No cristianismo no Ocidente, a simbólica perde aos poucos o seu conteúdo, porque o ocidental tem pouca capacidade para o símbolo, pois prefere compreender pela razão do que pela afetividade. Mas o símbolo é uma linguagem que comunica o incomunicável, e essa a razão por que o cristianismo também perde, no Ocidente, seu mais profundo conteúdo, tornando-se mais uma prática exterior ou, quando muito, uma linguagem para expressar o anseio universal de crer, que todo o homem revela. Inegavelmente, a simbólica cristã é quase incompreensível até aos sacerdotes, e raras ordens na Igreja conhecem e conservam os mais profundos significados.

Sete eram os elementos da alquimia, nos árabes, bem como sete os elementos decorativos da arte árabe, os estalactites. Sete encontramos nos sete planos da teosofia e também nas religiões do pensamento religioso e oculto universal. Vemos o sete nos Sephiroth – sephiroth dos hebreus, que são divididos num ternário superior e num quaternário inferior.

No ternário superior temos : Kaesed, princípio ativo, a vontade. Geburah, principio passivo e Tiphereth, princípio equilibrado, que surge dos dois precedentes. Esses três formam o ternário. O quaternário é dado pelos seguintes princípios: 1. Netzah, princípio masculino ativo, gerador, simbolizado pelo fogo. 2. Hod, principio feminino, plástico e inerte, que corresponde à água, simbolicamente. 3. Yésod, princípio equilibrado, fundamento da realização material, simbolizado pelo ar e 4. Malcuth, a materialidade, simbolizado pela terra. São esses os Sephiroth – sephiroth.

Encontramos ainda entre os pitagóricos o que se chama a “lei do sete” ou seja a “lei das vibrações”. Esta lei é também chamada por outros de “lei da oitava”. Numa progressão de um a sete, há, no oito posterior, um salto qualitativo de especificidade completamente diferente. Temos o exemplo na escala cromática : a oitava escala, que corresponde à repetição do dó, que é o primeiro, nos oferece um dó com um número duplo de vibrações, como se verifica nas notas musicais. A gama dos sete tons é uma lei cósmica que encontramos presente na luz, no calor, nas vibrações químicas, nas vibrações magnéticas, etc., como também na gama luminosa e no sistema periódico dos elementos na química. O que é interessante entretanto frisar, é a desigualdade da frequência entre dó e dó (este na oitava). Assim se dó é um, ré é 9/8, mi é 5/4, fá é 4/3, sol é 3/2, lá é 5/3, si é 18/8 e finalmente dó é 2.

Essas desigualdades de frequência tomam para os pitagóricos o nome de “lei da descontinuidade das vibrações”. As notas musicais são sete. Nas três primeiras, dó, ré, mi, temos uma continuidade ascensional, que é quebrada no fá, que é um desvio da direção original, desvio esse que se vai observar posteriormente quando da oitava, que, por sua vez, na terceira nota, quebra de maneira que, nas seis escalas, haveria um verdadeiro retorno, um verdadeiro ciclo, a formação de círculo, se o fossemos representar graficamente.

O sete é simbolizado pela estrela de sete pontas, correspondendo cada uma a um dos signos do zodíaco, aos dias da semana, que é lunar, e às notas musicais, como também aos tons da cor.

O dó corresponde ao vermelho (na base de 477 bilhões de vibrações por segundo) ; o amarelo (535 bilhões) corresponde ao ré; o verde azulado (596 bilhões) corresponde ao mi; o índigo (658 bilhões) corresponde ao fá; o violeta (649 bilhões) corresponde ao sol. É fácil ver que as proporções são desiguais, decorrentes da lei de descontinuidade, pois, na natureza, nunca há igualdade absoluta, nem nas proporções, consideradas faticamente realizadas, o que é um postulado pitagórico, aceito posteriormente pela escolástica e comprovado pela ciência relativista atual. Se o número de ouro dos pitagóricos (1,618… ) está presente em todos os fatos do mundo físico, é entretanto um número irracional, do qual pode haver maior ou menor aproximação, nunca porém é atualizado, como se pode ver pela sua expressão seguindo a série de Fibonacci, que dá 1,618 033 988 749 894 848 204 59…, e assim por diante. Deste modo, o número de ouro, que surge de operações da matemática, mas comprovado na realidade física, nunca encontra uma realização plenamente perfeita, assim como há uma incomensurabilidade entre o diâmetro e a circunferência, o que é uma revelação de que uma natureza, que imita o arithmós eidetikós, jamais consegue realizá-lo numa perfeição matemática. Apenas pode imitá-lo, em graus maiores ou menores. Fugiria ao campo deste livro se fossemos estudar as diversas aplicações do sete na simbólica das religiões e das doutrinas de caráter esotérico em geral.

Interessa-nos apenas, numa decorrência lógica no estudo que fizemos dos seis números, compreender que o sete„ em suas linhas gerais, é o símbolo de uma graduação cronológica, portanto qualitativa, apontando a evolução em sentido mais dinâmico, bem como aos saltos específicos que se verificam na natureza.

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