[…] O
estudo Sobre a
Essência contém muitas afirmações acerca da
possibilidade do
saber. Mas, por sua vez, é
verdade que o
estudo do
saber e de suas possibilidades inclui muitos
conceitos a respeito da
realidade. É que é impossível uma
prioridade intrínseca do
saber sobre a
realidade e da
realidade sobre o
saber. O
saber e a
realidade são, em sua própria
raiz, estrita e rigorosamente congêneres. Não há
prioridade de um sobre
o outro. E isso não somente devido a condições de
fato de nossas investigações, mas devido a uma
condição intrínseca e
formal da própria
ideia de
realidade e de
saber.
Realidade é o
caráter formal — a formalidade — segundo o qual o apreendido é algo “em
próprio”, algo “de seu”. E
saber é
apreender algo segundo essa formalidade. Voltarei em seguida a estas
ideias. Por isso, a suposta anterioridade
crítica do
saber sobre a
realidade, isto é, sobre o sabido, não é no fundo senão uma
espécie de timorata hesitação no
próprio começo do filosofar. Algo assim como se alguém que quisesse abrir uma porta passasse horas estudando o
movimento dos músculos de sua mão; provavelmente não chegaria nunca a abrir a porta. No fundo, essa
ideia crítica da anterioridade nunca chegou por si só a um
saber do
real, e quando o conseguiu tal se deveu, em geral, a não ter sido fiel à
crítica mesma. Não podia ser de outra
forma:
saber e
realidade são congêneres em sua
raiz. Portanto, publicar este
estudo sobre a
inteligência depois de ter publicado um
estudo sobre a
essência não significa preencher o
vazio de uma
necessidade insatisfeita; significa, pelo contrário, mostrar que o
estudo do
saber não é anterior ao
estudo da
realidade. O “após” a que antes me referia não é, pois, uma mera constatação de
fato, mas a
demonstração em
ato da deliberada repulsa de toda
crítica do
saber como
fundamento prévio ao
estudo do
real.
Isso, porém, não é tudo. Venho empregando a expressão “saber” com intencional indeterminação, porque a filosofia moderna não começa com o saber pura e simplesmente, mas com esse modo de saber que é chamado de “conhecimento”. Assim, a crítica é Crítica do conhecimento, da epistéme, ou, como se costuma dizer, é “epistemologia”, ciência do conhecimento. Pois bem, penso que isso é sumamente grave. Porque o conhecimento não é algo que repousa sobre si mesmo. E não me refiro com isso aos fatores determinantes de caráter psicológico, sociológico e histórico do conhecer. Certamente uma psicologia do conhecimento, uma sociologia do saber e uma historicidade do conhecer são coisas essenciais. Não são, porém, algo primário. Porque o primário do conhecimento está em ser um modo de intelecção. Portanto, toda epistemologia pressupõe uma investigação do que estruturalmente e formalmente é a inteligência, o Noús, um estudo de “noologia”. A vaga ideia do “saber” não se concretiza em primeira instância no conhecer, mas na intelecção enquanto tal. Não se trata de uma psicologia da inteligência nem de uma lógica, mas da estrutura formal do inteligir.
[…] El estudio Sobre la esencia contiene muchas afirmaciones acerca de la posibilidad del
saber. Pero a su vez es cierto que el estudio acerca del
saber y de sus posibilidades incluye muchos conceptos acerca de la realidad. Es que es imposible una prioridad intrínseca del
saber sobre la realidad ni de la realidad sobre el
saber. El
saber y la realidad son en su misma raíz estricta y rigurosamente congéneres. No hay prioridad de lo
uno sobre lo otro. Y esto no solamente por condiciones de hecho de nuestras investigaciones, sino por una condición intrínseca y
formal de la
idea misma de realidad y de
saber. Realidad es el
carácter formal —la formalidad— según el cual lo aprehendido es algo «en propio», algo «de suyo». Y
saber es aprehender algo según esta formalidad. Volveré inmediatamente sobre estas ideas. Por esto, la presunta anterioridad
crítica del
saber sobre la realidad, esto es sobre lo sabido, no es en el fondo sino una especie de timorato titubeo en el arranque mismo del filosofar. Algo así a como si alguien que quiere abrir una puerta se pasara horas estudiando el movimiento de los músculos de su mano; probablemente no llegará nunca a abrir la puerta. En el fondo, esta
idea crítica de anterioridad nunca ha llevado por sí sola a un
saber de lo
real, y cuando lo ha logrado se ha debido en general a no haber sido fiel a la
crítica misma. No podía menos de ser así:
saber y realidad son congéneres en su raíz. Por tanto, publicar este estudio sobre la inteligencia después de haber publicado un estudio sobre la esencia, no significa colmar el vacío de una necesidad insatisfecha; significa por el contrario mostrar sobre la marcha que el estudio del
saber no es anterior al estudio de la realidad. El «después» a que antes me refería no es pues una mera constatación de hecho sino la mostración en acto de la deliberada repulsa de toda
crítica del
saber como
fundamento previo al estudio de lo
real.
Pero esto no es todo. Vengo empleando la expresión «saber» con intencionada indeterminación. Porque ¡a filosofía moderna no comienza con el saber sin más, sino con ese modo de saber que se llama «conocimiento». La crítica es así Crítica del conocimiento, de ¡a epistéme, o como suele decirse, es «epistemología», ciencia del conocimiento. Ahora bien, pienso que esto es sumamente grave. Porque el conocimiento no es algo que reposa sobre sí mismo. Y no me refiero con ello a los factores determinantes psicológicos, sociológicos y históricos del conocer. Ciertamente una psicología del conocimiento, una sociología del saber, y una historicidad del conocer son cosas esenciales. Pero sin embargo, no son algo primario. Porque lo primario del conocimiento está en ser un modo de intelección. Por tanto toda epistemología presupone una investigación de ¡o que estructural y formalmente sea la inteligencia, el Nous, un estudio de «noología». La vaga idea del «saber» no se concreta en primera línea en el conocer, sino en la intelección en cuanto tal. No se trata de una psicología de la inteligencia ni de una lógica, sino de la estructura formal del inteligir.