Tonalidades Afetivas

(Eugenio Borgna, Prefácio, Bollnow2009)

A vida é sempre emocionalmente “intonada”. Os estados de ânimo da alegria e da tristeza, da euforia e da angústia, da felicidade e da melancolia — mas também as situações aparentemente ‘apáticas’ como o tédio e a indiferença — permeiam a existência e lhe conferem, a cada vez, uma ‘coloração’ particular. É apenas dentro dessa espécie de atmosfera emocional que ocorre o encontro com o mundo: a percepção do espaço e do tempo, o contato com as coisas e as pessoas. As tonalidades emocionais estão na base de toda a vida psíquica: são os modos de sentir que caracterizam e transformam a realidade, abrindo — ou impedindo, conforme o caso — as múltiplas formas de ser-no-mundo.

O tratado de Otto Bollnow tem um significado especial do ponto de vista da antropologia filosófica, psiquiátrica e pedagógica: analisa a natureza e a fenomenologia das tonalidades afetivas e discute suas implicações psicológicas e éticas, dialogando com pensadores como Kierkegaard, Scheler, Heidegger, Jaspers, Binswanger, mas também com poetas e escritores como Goethe, Hölderlin, Baudelaire, Proust, Huxley. Como observa Eugenio Borgna no Prefácio, existem «poucos livros que saibam, como este, nos ajudar na compreensão das tonalidades afetivas: consideradas em suas múltiplas conotações filosóficas e psicológicas. Um livro que filósofos e psicólogos, psiquiatras, educadores e assistentes sociais deveriam ler e estudar».

As tonalidades afetivas constituem o pano de fundo uniforme de onde — muitas vezes inconscientemente — brotam pensamentos, sentimentos, decisões e comportamentos. Elas são a primeira e mais elementar forma de consciência de si e do mundo. Toda relação está intimamente impregnada delas e toda significação existencial delas extrai seu sentido mais profundo. A exploração das tonalidades emocionais representa, portanto, um ponto de partida indispensável para os profissionais da saúde e para aqueles que atuam no âmbito das relações de ajuda, mas também para todos os que buscam o difícil objetivo de uma melhor compreensão de si mesmos e de sua humanidade.