Aldous Huxley. Também o cisne morre
“Janeiro, 11, 1788. Neste dia, cinquenta anos passados, nasci. Da solidão do Ventre passamos à solidão entre nossos Semelhantes e voltamos à solidão do Túmulo. Passamos a vida tentando mitigar esta solidão. Mas propinquidade nunca é fusão. A mais populosa das Cidades não passa de um aglomerado de Ermos, e trocamos Palavras de prisão para prisão, e sem poder esperar que elas signifiquem para os outros o que significam para nós. Casamo-nos; a casa passa a albergar duas solidões em vez de uma. E quando temos filhos, passa a abrigar muitas solidões. Reiteramos o ato do amor; mas, repito, propinquidade não é fusão. O mais íntimo dos contatos é apenas um contato de Superfícies, e acasalamo-nos como vi os Prisioneiros condenados se acasalarem, em Newgate, com as Prostitutas, por entre as grades da prisão. Não se pode experimentá-lo ou infligi-lo, e quando dispensamos Prazer a nossas Amantes ou prodigamos Caridade aos Necessitados, o fazemos não para gratificar o objeto de nossa Benevolência, mas para gratificar a nós mesmos. Porque a Verdade é que somos bons pela mesma razão que somos cruéis: para exaltar o sentimento de nosso Poder; é o que estamos sempre procurando fazer, embora isso nos faça sentir mais solitários que nunca. A Realidade da Solidão é a mesma para todos os homens, e nada há que a mitigue, exceto o Esquecimento, a Estupidez ou a Ilusão; mas o sentimento de Solidão de um homem é proporcional ao sentimento e à realidade de seu Poder. Em um dado conjunto de circunstâncias, de quanto mais Poder dispomos, tanto mais intensamente sentimos nossa solidão. Em minha vida, dispus de muito Poder.”