De um século para cá, a filosofia está morrendo e não o consegue, porque sua tarefa não foi cumprida. Por isso, sua despedida só pode estender-se longamente, de maneira torturante. Ali onde não afundou na simples administração do pensamento, ela continua a se arrastar numa brilhante agonia, na qual se apercebe do que se esqueceu de dizer durante a vida. Em vista do fim, ela gostaria de ser franca e abandonar seu derradeiro mistério: os grandes temas eram subterfúgios e meias verdades. Esses voos pelas alturas para a beleza inútil — Deus, o Universo, a Teoria, a Prática, o Sujeito, o Objeto, o Corpo, a Mente, o Sentido, o Nada —, nada disso existe. São substantivos para os jovens, para os marginais, os letrados, os sociólogos.
Peter Sloterdijk, Kritik der zynischen Vernunft. Frankfurt: Suhrkamp Verlag, 1983, v. I, p. 7.