(Hadot2018)
É preciso separar estas duas coisas: o medo do futuro e a lembrança das dificuldades de outrora: isto já não me diz respeito, aquilo não me diz respeito ainda. O sábio desfruta do presente sem depender do futuro. Liberado das pesadas preocupações que torturam a alma, nada espera, nada deseja e não se atira para o incerto, pois contenta-se com o que tem [isto é, com o presente, a única coisa que nos pertencem]. E não creias que ele se contenta com pouco, pois o que ele tem [o presente] é todas as coisas. (Sêneca) 1
Assistimos aqui à mesma transfiguração do presente que já havíamos encontrado no epicurismo. Para os estoicos, no presente temos tudo, só o presente é nossa felicidade, o presente basta para a felicidade, e isso por duas razões: primeiramente porque, assim como o prazer epicurista, a felicidade estoica está por inteiro em cada instante e não aumenta com a duração; depois, porque possuímos no instante presente a totalidade da realidade e uma duração infinita não poderia nos dar mais do que aquilo que possuímos no instante presente.
- Sénèque, Lettres à Lucilius, 78, 14.[↩]