[I 146] Naturalmente, em todos os tempos uma
etiologia ignara de seu fim empenhou-se em reduzir toda
vida orgânica ao quimismo ou à eletricidade [182]; e
todo quimismo, isto é, toda
qualidade ao
mecanismo (
efeito através da
figura dos átomos), e este, por sua vez, em
parte ao
objeto da
foronomia,
tempo e
espaço unidos para a
possibilidade do
movimento, em
parte à mera
geometria, à
posição no
espaço (algo assim
como se constrói, com
razão, de maneira puramente geométrica, a
diminuição de um
efeito de
acordo com o quadrado da distância e a
teoria da alavanca); a própria
geometria, por fim, deixa-se resolver em
aritmética, que, em
virtude da
unidade da
dimensão, é a mais compreensível, a mais fácil de abarcar e a mais
bem fundamentada
figura do
princípio de
razão. Em linhas gerais, provas do
método aqui indicado são: os átomos de
Demócrito, o
vórtice de
Descartes, a
física mecânica de LESAGE (que, no final do século passado, procurou explanar mecanicamente tanto as afinidades químicas quanto a gravitação por choque e pressão,
como se pode verificar detalhadamente em Lucrece Neutonien.). Também a
forma e a combinação de Reils, enquanto
causa da
vida animal, tende a isso. Por fim, totalmente nesses moldes é até mesmo o tosco
materialismo agora requentado no
meio do século XIX, e que, por
ignorância, tomou a
si mesmo como original: em primeiro
lugar sob a estúpida
negação da
força vital, procurando explanar os fenômenos da
vida a partir de forças físicas e químicas e estas, por seu turno, a partir do fazer-efeito
mecânico da
matéria,
posição,
figura e
movimento de átomos oníricos; em segundo
lugar, desejando assim reduzir todas as forças da
natureza a choque e contra-choque, que seriam a sua “
coisa-em-si”: de
acordo com isso, a
luz deve
ser um vibrar
mecânico, ou ondular de um
éter imaginário e
postulado em vista de tal
finalidade; ora, quando
esse éter atinge a retina, percute nela, e assim 483 bilhões de batidas por segundo originam o vermelho, 727 o violeta etc. (os cegos às cores e daltônicos seriam os que não conseguem contar tais batidas — não é mesmo?!). Semelhantes teorias rasas, mecânicas, democritianas, bestas e verdadeiramente grosseiras são bastante dignas de pessoas que, cinquenta anos após a publicação da doutrina das cores de
Goethe, ainda acreditam na
luz homogênea de Newton e não se [I 147] envergonham em admiti-lo. Aprenderão que aquilo a
ser perdoado à criança (
Demócrito) não o será ao adulto. Um dia poderão até findar numa
situação ignominiosa: mas então cada um saberá esquivar-se e fingir-se de ingênuo. Em breve falaremos novamente dessa [183] falsa
redução das forças originárias da
natureza umas às outras. No
momento é o suficiente. Supondo-se que as
coisas realmente fossem assim, então com
certeza tudo seria fundamentado e explanado, sim, tudo seria em última
instância reduzido a um
problema aritmético que, assim, no
templo da
sabedoria, seria o
ícone mais
sagrado ao qual nos conduziria o
princípio de
razão. Entrementes,
todo conteúdo do
fenômeno desapareceria, restando meras formas. Aquilo QUE aparece seria reduzido ao COMO aparece, e este COMO seria o cognoscível
a priori, por conseguinte, totalmente dependente do
sujeito, logo, completamente redutível a este, sendo ao fim mero
fantasma,
representação e absoluta
forma da
representação. Não se poderia mais perguntar pela
coisa-em-si. — Em
consequência, supondo-se que isso fosse plausível, o
mundo inteiro seria de
fato dedutível do
sujeito e, ao fim, teríamos aquilo que
Fichte quis PARECER realizar com seus argumentos ocos.
Campo Oculto — Mas não é
bem assim: fantasias, falsificações, castelos no
ar foram dessa maneira construídos, porém nenhuma
ciência. Os muitos e variados fenômenos da
natureza foram com
sucesso reduzidos a algumas forças originárias e, onde isso foi feito, realizou-se um
verdadeiro progresso. Várias forças e qualidades., a
princípio tidas por diferentes, foram derivadas umas das outras (por
exemplo, o magnetismo da eletricidade), diminuindo-se assim o seu
número. A
etiologia atingirá o seu
objetivo se estabelecer e conhecer todas as forças originárias da
natureza enquanto tais e fixar seus tipos de
efeito, isto é, a
regra segundo a qual, pelo fio condutor da
causalidade, seus fenômenos aparecem no
tempo e no
espaço e determinam reciprocamente suas posições, porém sempre restarão forças originárias; sempre restará, como resíduo insolúvel, um conteúdo do
fenômeno que não pode
ser remetido à sua
forma; sempre restará, portanto, algo não mais explanável por outra
coisa e em conformidade com o
princípio de
razão.