Schérer (1971:140-143) – Daseinanálise de Binswanger (I)

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Reafirmemos primeiro as noções de princípio que separam a concepção psiquiátrica de Binswanger da de Freud, pois talvez tenhamos deixado este ponto na incerteza, estando mais preocupados, antes de mais, em mostrar como a investigação concreta freudiana poderia enriquecer os dados de uma análise teórica do que em insistir nas diferenças. Binswanger não se contenta em acrescentar ao sistema freudiano a noção de “mente” que, sob a forma de logos, é o objeto da nossa investigação atual. Ao contrário de Jacques Lacan, Binswanger não é o exegeta de Freud; se ele extrai um sentido de certos conceitos freudianos, que ele reinterpreta e utiliza, é para dizer claramente que esse sentido está ausente, não só na letra, mas também no espírito da psicanálise. É por isso que ele insiste em encerrar a psicanálise sobretudo numa concepção que, por princípio, a impede de abordar certos problemas: quaisquer que sejam as modificações essenciais que Freud possa ter feito a uma concepção ingenuamente naturalista do homem, a psicanálise não pode ir além dos seus próprios [141] postulados de objetivação dos poderes instintivos e das “instâncias” do sujeito. Binswanger opõe a esta atitude objetivista, que ignora o problema da comunicação e o substitui pelo esquema de um mecanismo de transferência, uma psicoterapia que toma a comunicação como tema, tal como substitui uma concepção biológica da vida por uma concepção existencial da história individual.

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