O SÍMBOLO DA LUZ E DAS CORES
Não cabe à Simbólica o estudo da luz, como o é feito na ótica e na Física, mas apenas o referente à sua significabilidade, como motivadora das cores e o significado que estas sempre tiveram e têm para o ser humano.
Nesta parte, onde iremos examinar algumas aplicações do símbolo, não podemos estender-nos como seria de desejar, pois o nosso “Dicionário dos Símbolos e Sinais” em preparação, conterá a simbólica universal, não só no campo da Arte, como no campo da Religião, da Ciência, da Matemática, da Física, da Filosofia, da Sociologia, da Psicologia, dos Sonhos, da Política, etc.
Entre os ocidentais, cabe a Goethe um dos melhores estudos sobre o simbolismo das cores. Considerando que a cor é o choque entre a luz e as trevas, as cores revelam, ora o predomínio das trevas, ora o da luz. Chamam-se de cores quentes as mais luminosas, mais claras, e cores frias, as menos luminosas, as mais escuras, como o violeta.
A cor clara é sempre alegre e a escura é triste.
Sabe a psicologia que, no escuro, a circulação sanguínea diminui, enquanto na passagem da sombra para a luz, há mudança dessa circulação.
Às sombras, às trevas ligamos esquematicamente o medo, o pavor, o terror, o confuso, etc. É das trevas que saem os perigos, enquanto da luz sai a vida, a criação, a tranquilidade.
Os momentos alegres os assimilamos à luz, enquanto os momentos lutuosos, tristes, acabrunhantes os assimilamos às trevas.
E como as sombras se esquematizam em estruturas de medo e de pavor, é natural que as trevas provoquem medo e pavor, pois são assimiladas ao esquema.
Por outro lado, o luminoso, o claro, liga-se a tudo quanto é alegre, criador, vivo, razão pela qual a luz é animadora, porque desde logo é assimilada a esquemas que se estruturam com agradabilidade, enquanto o inverso se dá, quando assimilada aos esquemas em que há desagradabilidade, que se ligam aos penumbrosos, trevosos, etc.
(NA: Para a Física moderna, as cores têm origem nos saltos eletrônicos. Dá-se a luz, quando os elétrons são suspensos das órbitas inferiores para as superiores, e, nesse caso, lançam partículas, fótons, energias transmitidas, de intensidade heterogênea. Assim, o vermelho se dá quando há saltos eletrônicos da terceira para a quarta órbita; o azul, da 2a. para a 3a., e o ultra-violeta, que já não é visível, da la. para a 2a. órbita. Esta explicação é elementar e não traduz a complexidade dessas órbitas e de suas características, como se verifica nos modernos estudos físicos sobre a teoria atômica.
Reserva-se, no entanto, algo positivo para o pensamento de Goethe, que aliás reproduz um velho pensamento já esboçado no Ocidente por Nicolau de Cusa e os que se inspiraram em suas ideias, sobre a luta entre as trevas e a luz, cujos estudos encontramos na cultura alexandrina, entre os gnósticos, nos egípcios, como em todos os conhecimentos herméticos e iniciáticos das culturas superiores. No entanto, convém salientar que, no pensamento iniciático, há uma distinção entre a luz física e a luz espiritual. A luz, que a Física estuda, é a luz física, de origem eletrônica. A luz espiritual, que não poderíamos aqui estudar, refere-se em parte ao que físicos atuais, como Einstein, viram-se na contingência de examinar, e que Schoenberg chamou de “ondas imateriais”. Neste caso, não é o elétron que pilota uma onda, mas uma onda que pilota o elétron. A onda, que surge do elétron, teria uma causa eficiente em outro poder que ultrapassa ao campo da eletrônica e da física nuclear. E, uma interrogação que surge para os mais profundos estudiosos modernos da Física, pois há, nela, o revelar-se de algo que ultrapassa a dimensionalidade do mundo quaternário da Física, das dimensões que compõem o esquema cronotópico, ou seja, do complexo tempo-espacial. Este tema será por nós abordado em nosso livro “Filosofia e Ciência”, em preparação.)
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Estabelecia Goethe o seguinte quadro, onde surgem as três cores elementares:
O azul, com o vermelho, nos dá o violeta. O amarelo com o vermelho ó laranja. O azul, com o amarelo, dá-nos o verde. Temos assim as seis cores: as três fundamentais e as três combinadas.
Por sua vez, o laranja, com o vermelho, dá o rosa; o alaranjado, com o amarelo, o amarelo-alaranjado; o amarelo com o verde, a cor de enxofre; o verde com o azul, o azul-esverdeado; o azul com o violeta, o azul-marinho; e o vermelho com o violeta, o púrpura, e o marron.
Do púrpura ao sufra, (cor de enxofre), temos as cores quentes; do sufra ao violeta, as cores frias.
As cores têm uma grande influência sobre nós, e a psicologia estuda o alcance dessa influência. E é tal, que já se institui uma cromoterapia, que é um modo de curar doenças nervosas através do emprego das cores.
Quanto ao significado universal das cores, podem acentuar-se os seguintes aspectos, que nos mostram o papel simbólico que elas realizam:
Azul – Símbolo da verdade, da lealdade, da serenidade. Cor do pensamento elevado, cor aristocrática, cor do manto da Virgem. Os gregos não usavam frequentemente nem o azul nem o verde. O azul apenas surgia nos triglifos dos templos, para dar profundidade. É a cor da profundidade, e o azul permite uma penetração mais longínqua do olhar. O azul é a cor dos mares, das montanhas distantes, do céu profundo, das distâncias. Pertence mais à atmosfera que às coisas, anula os corpos, dá a impressão das lonjuras. Símbolo também do infinito.
Vermelho – Cor do sangue, símbolo da vida. Simboliza atividade, combatividade, ardor, choque, símbolo da paixão imperiosa, do sentimento forte. Cor da sensibilidade, cor popular, símbolo de todos os sonhos rubros das revoluções. Cor excitante.
Púrpura – Cor dos mantos cardinalícios, cor da majestade, símbolo da realeza, da aristocracia dominante, dos mantos imperiais. Símbolo da autoridade, do mando, do poder (Cor que une os extremos).
Amarelo – Cor do mundo transcendente, clareado à inteligência humana. Cor da revelação que ilumina o espírito humano em trevas. Nas virtudes teologais, simboliza a fé. Nas virtudes mundanas, significa generosidade do coração, inspiração feliz, bom conselho. Na ordem dos vícios, simboliza o egoísmo orgulhoso. Se é amarelo pálido, simboliza decepção, traição, característica também do sufra. Nos vitrais Judas aparece vestido de amarelo pálido. É também a cor da luz, do ouro, da intuição.
Verde – Cor da natureza, da criação, do renascimento, também da vida. Simboliza revelação. Nas virtudes teologais é o símbolo da esperança. Símbolo do amor feliz, da alegria, da prosperidade. Em sentido negativo é degradação moral, desespero, loucura. É uma cor apaziguante, tranquilizadora, apassivadora. Por isso pode simbolizar submissão.
Branco – Embora não seja propriamente, uma cor, o branco reflete o absoluto, o triunfo dos eleitos, dos anjos. (Lembremo-nos da frase de São Paulo : Aquele que vencer estará vestido de branco). Cor de Cristo, dos pitagóricos, dos essênios. Nos sonhos, é comum surgir uma figura patriarcal, de longas barbas brancas, vestida de branco, que nos dá conselhos. Este símbolo é universal. Tem este significado até inclusive entre os povos de cor. Em todos os cultos, o supremo pontífice veste de branco. Opositivamente, pode simbolizar frieza, angústia, abandono.
As cores intermédias tem significações intermédias. É comum sentir-se, no violeta, símbolo do místico, um leve iluminar de luz sobre trevas. Também o violeta aparece como cor dos vencidos, mas não é símbolo universal. O preto é sempre símbolo lutuoso. É verdade que os chineses costumam vestir de branco quando da morte de um parente. Tal não significa que o branco seja cor da tristeza, da dor. É que os chineses consideram pessimisticamente esta vida, e veem na morte uma libertação. Morrer é salvar-se. Por isso, festejam a morte, e ao velarem os corpos dos amigos e parentes manifestam satisfação, dando parabéns aos parentes em vez de pêsames, ao inverso do que fazem os ocidentais.