TEMA V
ARTIGO 10 – NOVENARIO E O DECENARIO
O nove é o último número simples. Em algumas simbólicas significa as três tríades: a superior, que é a da trindade divina (Consciência, Intelectualidade e Vontade infinitas, ou Vontade, Intelectualidade e Amor infinitos), as duas inferiores, que correspondem às duas tríades como as expostas pelo pitagorismo, acrescentando-se, porém, que os arithmoi archai, os números ideais, as “leis das leis”, seriam a ordem angelical, isto é, a ordem dos poderes, que têm o papel ministerial de realizar a ordem cósmica. Para os teosofistas (cujo pensamento é fundamentalmente panteísta) nove é o número sagrado do Ser e do Devir (do vir-a-ser), simbolizados pelos números quadrados.
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Nove é o terceiro quadrado, quadrado da tríade. O primeiro quadrado é igual à unidade; o segundo indica a diferenciação, o antagonismo : o terceiro, 9, expressa o desenvolvimento completo e harmonioso do ternário.
No Zend-Avesta, dos persas, o número 9 é tomado como o cumprimento do tempo acabado e na liturgia tem um papel importante. No culto mazdeísta, na Pérsia, nos cultos chineses e hindus, encontramos o nove na simbolização da multiplicidade que retorna à unidade, ou seja: do homogêneo surge o heterogêneo, pela diferenciação diádica; ao homogêneo retorna o heterogêneo pelo cumprimento do nove. É a reintegração final, a Redenção, ao mesmo tempo que revela a solidariedade cósmica do Múltiplo ao Um, pois o múltiplo, o heterogêneo, é uma diferenciação por privação
da plenitude do Um. Parmênides dizia que o número 9 é concernente às coisas divinas.
Também no período escolástico, encontramos o nove, como correspondente às nove modalidades do ser, como em Lullius.
O 9 é usado pelo maçons como símbolo eterno da imortalidade humana, e são 9 os mestres que reencontraram o corpo e o túmulo de Hiram Abib, dado como fundador da maçonaria, no mito maçônico.
Como síntese, pode-se considerar o nove como símbolo da reintegração do heterogêneo na homogeneidade do Ser Supremo.
É o símbolo de TODO, como Tudo. Mas o 9, nesse sentido, seria uma manifestação de pensamento panteísta, pois o heterogêneo se identificaria ao homogêneo. É essa a razão por que a síntese cósmica do 9 tem de ser superada pelo Síntese Suprema do 10, que é a unidade superior, que aritmosoficamente é 1, não, porém, a unidade comum, pois simboliza o divino, o transcendente.
9 – Homogeneização no Todo da heterogeneidade de Tudo.
Para os hindus, 10 é um número sagrado e indica a reintegração definitiva de todos os seres na fusão com Brahman, no Pralaya, que termina toda a criação.
Antes de alcançar este Pralaya, 10 é símbolo da consciência cósmica de Deus em si, e simboliza, por sua vez, o limite da concepção humana que conta tudo por 10.
O sistema decimal é mais universal do que se pensa, pois o encontramos, em suas origens, entre os árias, nos egípcios, nos caldeus, nos gregos, nos hebreus, nos latinos, nos chinêses e, inclusive, na América, entre os povos pré-colombianos. O sistema decimal é universal, portanto.
Os números posteriores a 10 são sempre formados com números simples, como se pode ver pela linguagem dos diversos povos. Assim 11, é 10 e 1, doze, 10 e dois, etc.
São esses sinais numéricos indicados pelos dedos das mãos. Já vimos a distinção que há entre a unidade simples do número 1, e a sintética do 10, símbolo da unidade transcendental, como vimos.
Atribuem-se aos pitagóricos vários sentidos para a década, como a afirmação de que todo conhecimento humano prende-se a dez possibilidades de pensamento. Em dez, incluem-se todas as razões e todas as harmonias dos outros números e posteriormente Aristóteles, na Metafísica, VII, diz que “as idéias e os números são da mesma natureza e elevam-se a dez em tudo”, referindo-se naturalmente ao sentido pitagórico de entender o número que, na verdade, é a forma intrínseca e extrínseca (esta é propriamente a figura).
Na Bíblia, 10 são os nomes de Deus, 10 os seus atributos. E, no Renascimento, Pico de lã Mirandola afirmava que “aquele que conhece a virtude do número dez e a natureza do primeiro número esférico (que é o cinco), terá o segredo das cinqüenta portas da inteligência, do grande jubileu, da milésima geração e do reino de todos os séculos.”
Encontramos o 10 em várias passagens da Bíblia : as dez cortinas no Templo, as dez cordas do sáltério, os dez cantores de salmos, a descida do Espírito Santo dez dias depois da ascensão de Cristo. É com esse número que Josué venceu trinta reis, que David venceu Golias e Daniel evitou os leões, na cova. Dez são os mandamentos, o decálogo.
Entre os hindus, 10 são os Prajapati que Brahma criou, forças que se assemelham aos sephiroth dos hebreus. Dez são as virtudes no código de Manu.
Na filosofia, encontramos o 10 nas categorias aristotélicas (substância, quantidade, qualidade, relação, ação, paixão (aptidão de ser determinado), o lugar, o tempo, a posição e o habitam).
Essas categorias, como o mostrava Occam, endereçam-se ao ser particular e às suas modalidades considerada em si.
Para o pitagorismo, as categorias são dinâmicas e dialéticas, porque o ser, considerado em si, é tomado abstratamente, e é necessário considerar as predisponências que permitem que ele seja, pelo co-relacionamento que há entre os seres finitos.
As categorias de Aristóteles, por exemplo, são lógicas. O Estagirita partiu da observação filosófica para estabelecê-las, e verificou que elas correspondem à classificação última que se pode fazer dos seres.
No exemplo que vamos dar, vemos as categorias aristotelicamente consideradas, como presentes: João é um homem (indivíduo), pequeno (quantidade), moreno (qualidade), filho de Pedro (relação), sapateiro (ação), que foi acidentado num desastre (paixão), e que se encontra junto à porta (lugar), agora (tempo), sentado (posição), vestido de preto (habitam) ou que é sábio (também habitam, porque a sabedoria é um hábito quando adquirida, não quando é ingênita, o que seria uma graça, em sentido teológico).
Para os pitagóricos, como já o mostramos, as categorias são ontológicas e ônticas, referem-se ao ser em sua estrutura ontológica, ou em suas relações ônticas, e não apenas em si mesmos. São conseqüentemente mais amplas, e abrangem todas as modalidades de ser. Três são as categorias fundamentais para os pitagóricos : substância universal, oposição e relação. Tomada individualmente, a substância será a individual, matéria e forma; a oposição, a correspondente às antinomias intrínsecas e extrínsecas, e as relações surgem das colocações face a face dos opostos intrínsecos ou extrínsecos.
A década é simbolizada por um triângulo eqüilateral, em que cada lado é dividido por três partes iguais, formando 9 triângulos semelhantes intrínsecos que, com o décimo, que os contém, formam o dez. Recebe também outras simbolizações como pela coluna e o circulo, por um círculo com 10 pontas, ou dez esferas, tangenciando-se ou interpenetrando-se, etc.
Em síntese significa:
10 A Unidade Transcendental da Ordem Cósmica e do Ser Supremo.