Santos Simbolismo 5

Quinário
TEMA V
ARTIGO 6 – O QUINÁRIO
Encontramos no quaternário uma dupla oposição. Se todas as coisas do mundo criado podem ser vistas diádica e ternariamente, as coisas do mundo físico são sempre tomadas quaternariamente se queremos alcançar a sua base estrutural física.

Ao estudar a oposição entre as diferenças últimas elo ser finito (para os escolásticos as differentias ultimas eram ato e potência; no pitagorismo é a díade, pois todo ser finito é sempre diádico, ou seja, pelo menos é um produto de dois, de dois co-princípios que o geram), a oposição, repetimos, revela a relação formada entre os opostos positivos, ca1trários, mas identificados no ser, pois ambos são ser, ambos têm a eficácia do ser. Portanto, temos, na oposição, a díade; dela surge uma relação, a tríade, e finalmente como são identificadas no ser, a tétrada.

O quaternário surge, assim, de várias maneiras. Temos aí o fundamento das categorias pitagóricas: Mônada: a substância universal; díade, a oposição entre os contrários opostos (consequentemente a categoria da contrariedade é ima vente ao ser finito), tríade, a relação que surge entre os opostos em face um do outro; a tétrada categoria) seria a reciprocidade, pois os contrários se interatuam, dando surgimento ao evolver físico.

O equilíbrio, que surge da relação entre os opostos, a adequação, a harmonia que sempre implica o equilíbrio entre os opostos analogados, são conceitos que se referem às relações surgidas e à reciprocidade e às modais, que delas decorrem, e que serão a seguir objeto de estudo.

O quinário, portanto, encontra aqui um fundamento categoria) e decorrente do desenvolvimento da oposição fundamental, a díada.

Os pitagóricos dizem, simbolicamente, que o 1 gera o 1, e este o 2, e este o 3, e este o 4, e este o 5. Temos ai exposto, no campo das categorias, a sucessão ontológica dos números, como símbolos. O UM, o ser divino, cria o Um, substância universal. Essa passagem do UM Supremo, a tríade suprema, a trindade, para, na procissão ad extra da criação, dar surgimento à Substância Universal, é tema de Teologia, e é nas obras correspondentes que teremos oportunidade de examinar as diversas doutrinas criacionistas, comparando-as com o pensamento pitagórico, tão pouco conhecido e tão caricaturado.[[Esse tema é por nós estudado em “O Homem perante o Infinito”, e em “O Problema da Criação”.]]

Na Atharvaveda encontramos esta passagem “A Vida, que é a melhor, diz : – “sou eu que por essa quíntupla divisão mim mesma, reúno e sustento o feixe de cinco flechas.”

Para os hermetistas, o número cinco é esférico, porque multiplicado por si, tantas vezes quantas se quiser, deixará sempre uma desinência do produto igual a si mesmo. O treze é triangular, o quatro é quadrado, e o cinco será pentagonal.

Cinco é a hipotenusa do triângulo retângulo, que corresponde à hipotenusa de quadrado, que por sua vez, inclusa numa circunferência, corresponde ao diâmetro da circunferência.

A hipotenusa é incomensurável em relação aos lados, como é imensurável o diâmetro da circunferência, que dá um número irracional, como é pi (1,1416).

No estudo do quartenário, verificamos que dois pares de contrários encerram o cronotópico (o tempo-espacial). O quaternário dá um equilíbrio mecânico, dá o limite.

O cinco é, na natureza, o símbolo do éter que permanece como a substância da qual surgem todas as diferenciações quaternárias.

Mesmo que nos coloquemos numa posição materialista, teríamos de alcançar ao cinco, pois a matéria, considerada em si mesma como matéria prima, seria a quinta em face do quaternário.

Encontramos nos antigos a classificação quinária de: terra, água, ar, fogo, éter. As coisas físicas apresentam os estados: sólido, líquido, gasoso, fluídico, correspondendo ao éter o estado verdadeiramente etéreo, homogêneo, que ultrapassa o campo do conhecimento intuitivo sensível.

Psicologicamente considerado, o nosso conhecimento intuitivo alcança apenas o quaternário. O quinário exige já uma penetração de ordem intelectual, especulativa portanto, um além do quaternário. Eis por que o cinco é também o símbolo do mental, quando vê o que os olhos e os sentidos não captam.

Nas religiões, encontramos o quinário expresso, como entre os hindus, em cinco deuses; nos chineses, os cinco elementos, as cinco faculdades ativas, as cinco coisas periódicas, etc.

Nos hermetistas, encontramos o termo quintessência, que é o princípio ao qual estão ligados os quatro elementos. É ela a semente, a matriz, por oposição aos quatro elementos. E vemo-la representada sob a forma de uma rosa de cinco pétalas, a rosa hermética.

Cinco são as formas geométricas elementares: o tretraedro, o cubo, o octaedro, o dodecaedro e o icosaedro, todas elas com os seus lados iguais, ângulos iguais e faces iguais. A substância é, na filosofia escolástica, vista sob cinco predicados ou predicáveis: predica-se o acidente, o que lhe é próprio, a diferença, a espécie e o gênero.

Na simbologia aritmosófica, o cinco é o símbolo da matéria viva, pois esta é sempre classificável em cinco aspectos. Assim, nas plantas mais evoluídas, distinguimos cinco partes: raiz, tronco, folhas, flores e frutos.

Como vimos anteriormente, cinco já aponta a uma vitória ou a uma superação da matéria, por isso é o símbolo do homem, e o vemos representado no pentagrama, na estrela de cinco pontas, que representam o homem, como vemos também no sinal chinês do yen. Encontramos o pentagrama na cultura egípcia, e a própria pirâmide é ainda um símbolo quinário.

Nas culturas menores, encontramos o cinco simbolizado pelos dedos das mãos, sendo o polegar o que simboliza o homem pela sua oposição aos outros dedos. O pentagrama é símbolo muito usado entre os maçons e corresponde à estrela de cinco pontas, o símbolo do homem, do espírito elevado, mas que, invertido, é o símbolo da aberração humana, do demoníaco, como vemos no pentagrama invertido com a cabeça do bode. As pirâmides têm cinco pontas e nos sacrifícios prestados pelo povo de Israel, encontramos a presença dos cinco animais sacrificados, votados aos cinco princípios.

Refere-se também o cinco aos nossos cinco sentidos. Cinco são as viagens dos iniciados.

Se o quaternário reduz a visão cósmica dentro dos ciclos evolutivos, o 5 é um romper desse equilíbrio imanente, e é, por isso, símbolo de um transcender do físico. É essa uma das suas mais importantes significações, embora, por sua polissignificabilidade, possa ser empregado nos diversos sentidos que tivemos ocasião de examinar até aqui.

A visão materialista, a meramente empirista, as naturalistas, permanecem todas dentro da visão quaternária, que pode significar aquela que apenas se inclui na imanência do ser físico. A ciência, como a compreendemos hoje, é quaternária, muito embora em suas investigações alcance a certos limites que ela, dentro do critério científico, não pode ultrapassar. É precisamente neste ponto que a ciência invade o campo da filosofia, cujo objeto pertence à Filosofia da Ciência. Ao tratar do número em sua essência, da matéria, da energia, das fontes de todo o ser físico, a ciência sente que o terreno do imanente lhe é estreito. Ao tangenciar esses limites, o cientista ou recua ou avança. Se recua, permanece no campo apenas científico; se avança, invade, quer queira quer não, o âmbito da filosofia.

Desse modo, o quinário é o símbolo da via philosophica. É uma divisa que separa duas esferas, ou melhor, o que aponta para o âmbito propriamente filosófico, pois a filosofia não exclui, nem deve excluir o campo científico, de onde pode partir para especular sobre o que ultrapassa o meramente físico, o quaternário. É esta a razão que permite fazer uma distinção entre o quaternário inferior, o que já timos oportunidade de estudar, e a tetractys suprema, cujo conjunto forma o octonário, simbolizado pelo 8, que será tema a ser examinado oportunamente.

A vida, por exemplo, para a própria ciência, é rebelde a enquadrar-se dentro dos esquemas do quaternário. E não só a vida, mas também as manifestações inteligentes superiores. Esse ultrapassar é irritante para muitos materialistas, que fazem esforços em reduzir tudo ao quaternário.

E é essa a razão porque o cinco, que surge nos símbolos do pentagrama, é uma indicação da vida e da inteligência, porque já aponta para algo que se coloca além da dimensionalidade física. Aí, nesse setor, os números matemáticos quaternários, que correspondem à tríade inferior do pitagorismo, são inaptos para traduzir a realidade que se apresenta, e exigem, consequentemente, o trabalho do filósofo.

É a maçã o símbolo do pentagrama, pois suas sementes se colocam como a estrela de cinco pontas (pentacarpo ou pentacarpelado).

Na Bíblia, no livro da Gênesis, o fruto proibido é a maçã, da árvore da sabedoria, porque o cinco simboliza a atividade do espírito ao conhecer o quaternário, o saber que conquistado, afasta o homem do jardim do Éden, o jardim da vida inocente animal, para levá-lo, pelo conhecimento do bem e do mal, ao sofrimento da vida. Por isso o cinco é símbolo da mente e da inteligência, o espírito humano que cerca a natureza (como a serpente), para conhecê-la e julgá-la.

Na sua combinação aritmonômica, o cinco é a soma do primeiro número par, o 2, e do primeiro número impar, o 3, (o 1 não é nem par nem impar aritmosoficamente considerado). Eis por que o vemos simbolizar o matrimônio.

Para sintetizar, podemos dizer que o 5 é símbolo da forma, dos esquemas que encapam aos olhos do corpo e são vistos pelos olhos da inteligência.


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