Santos Simbolismo 4

TEMA V
ARTIGO 5 – O QUATERNÁRIO – O NÚMERO 4
Ao serem examinadas as vibrações, verifica-se facilmente que a alternância, que é diádica, só apresenta a sucessão nitidamente quando há repetição da díade, portanto quando se apresenta quaternariamente. Assim a curva alta e a curva baixa, quando repetidas, dão o sentido da sucessão, do prolongamento.

Ademais, a visão do orbe permite estabelecer os quatro pontos cardiais, os quatro ventos tão distintos de cada direção, como ainda as quatro estações, que se apresentam nitidamente diferentes nos climas temperados.

O exame do espaço leva a estabelecer as direções quaternárias, as mais simples com os quais se pode dividir o espaço, como alto e baixo, direita e esquerda. Ao observar os estados da matéria, pôde o homem reduzi-los a quatro estados elementares: o sólido, o líquido, o aeriforme é o fluídico, cujas combinações dariam os outros estados conhecidos. No exame do clima, percebeu o homem que ele é quaternariamente distribuído: quente, seco, frio e úmido, cujas combinações dariam a heterogeneidade dos climas conhecidos.

Ao examinar etnologicamente a constituição das raças humanas, verificou que, conforme os pontos cardiais, as raças eram também quatro: a branca no norte, a negra no sul, a amarela ao leste e a vermelha no oeste. Ao examinar u funcionamento na natureza, observou que quatro eram as funções características: a assimilação, que se dá até no reino vegetal; o catabolismo animal, que revela características diferentes da vegetal; e, finalmente, a constituição do sistema nervoso, com funcionamento diferente dos outros.

O homem, por exemplo, é mineral, é vegetal, é animal e é o racional. Na divisão da natureza, comprovou que podia reduzi-la a quatro reinos; o animal, o vegetal, o mineral e o humano.

Se perpassarmos os nossos olhos pelas obras dos antigos jônicos, e se formos além, até o pensamento das culturas egípcia, hindu, japonesa, encontramos sempre a afirmativa de que quatro são os elementos fundamentais, de cujas combinações surgem todos os outros: terra, água, ar e fogo, que correspondem aos quatro estados da natureza. Verificou ademais o homem que os quatro estados da natureza não se seguem um ao outro arbitrariamente, pois não se passa do estado sólido para o gasoso sem que o anteceda o estado liquido, como no campo das estações o verão não passa para o inverno, sem que se intercale o outono. Encontramos ainda na química moderna uma reprodução destes quatro estados, dos quatro elementos primordiais, como seja o hidrogênio, que corresponde à água, o oxigênio, que corresponde ao fogo, o azoto, que corresponde ao ar, e o carbono que corresponde à terra.

São estes quatro elementos os principais de cada um destes estados da matéria ou pelo menos os fundamentos, e vemos nos mitos religiosos gnomos correspondendo à terra, ondinas correspondendo à água, sílfides correspondendo ao ar, e salamandras correspondendo ao fogo.

Em toda a parte a mesma simbólica do quaternário, até quando o homem procura classificar os caracteres, ou melhor, os temperamentos, como na concepção hipocrática. O linfático corresponde à água, o sanguíneo corresponde ao ar, o bilioso corresponde ao fogo, e o nervoso corresponde à terra.

Também na filosofia encontramos sempre a presença do quaternário. Ao estudar as causas, Aristóteles reduziu-as a quatro fundamentais: a eficiente, a formal, a material e a final. Quando Jung classificou os caracteres em dois, introvertido e extrovertido, pouco depois teve de estabelecer quatro funções, e posteriormente subdividir o introvertido em ativo e passivo e, identicamente, o extrovertido, classificando os caracteres quaternariamente.

Quatro eram as regras da alquimia, quatro as escalas da natureza, quatro as idades do homem, quatro os períodos do homem, como os períodos do dia.

Os pitagóricos consideravam quatro os números sagrados, a tetractys, pois a divindade pode também ser vista quaternariamente como mais adiante veremos. A tetractys é simbolizada pelos quatro primeiros algarismos, 1 + 2 + 3 + 4 = 10, cuja soma é a grande década, a unidade suprema. Estes quatro números podem referir-se, na aritmologia, ao ponto (1), linha (2), superfície (3), cubo (4), mas, para os pitagóricos, esta simbólica é somente de grau de paraskeiê, pois nos graus mais elevados, ela simboliza o quaternário tomado no sentido mais profundo, isto é, além da tríade inferior, que já tivemos oportunidade de examinar.

Examinando a natureza e os seus ciclos evolutivos, veremos que eles podem ser sempre reduzidos a quatro.

O quaternário é o número do tempo e das coisas temporais.

O quaternário é assim o símbolo das coisas corpóreas, o número, o arithmós em sentido pitagórico, do universo cósmico.

Em todas as religiões do mundo, há o emprego do quaternário como símbolo da natureza, e uma filosofia ou um pensamento religioso, que se ativesse apenas ao campo do quaternário, seria uma filosofia ou religião meramente naturalista.

Entre os iniciados, fala-se no quaternário quando se faz referência ao universo dos ciclos revolutivos.

E até no setor da história e da sociologia não são poucos os estudiosos que se veem forçados a estabelecer o quatro, quando desejam estudar as fases da história, como Oswald Spengler, que divide os ciclos culturais em quatro períodos, pois é impossível reduzir um ciclo a menos de quatro, se se deseja ter um conhecimento fundamental.

A circunferência, cortada em cruz pelos diâmetros (horizontal e perpendicular) nos revela o quatro imerso na circunferência. E temos aqui uma visão simbólica da unidade, a circunferência, dividida em suas quatro partes. É uma simbólica panteísta, naturalista, materialista, etc. Se no entanto for a de um quadrado incluso na circunferência, teremos uma visão panteísta, isto é, tudo (pan) está em Deus (em theos).

Temos o quaternário simbolizado pelo quadrado, como ainda o encontramos pelo tetraedo. A cruz suástica é símbolo do quaternário, mas as suas pontas, os segmentos verticais e horizontais representam a expansão e o dinamismo do quaternário. Entre os hindus, encontramos o quaternário simbolizado pelo lótus de quatro pétalas.

Um dos símbolos mais expressivos do quaternário é a base das pirâmides do Egito, tendendo cada lado para um dos pontos cardiais. Em sua base, a pirâmide é quaternária. Mas como convergem as linhas para um ápice central é símbolo também do quinário. Na verdade as pirâmides são símbolos de todos os números, e querem referir-se aos arithmói archai (os números arquetípicos) que são 9, nos quais já estudamos a unidade, a oposição e a relação, correspondentes ao 1, ao 2 e ao 3, e agora o 4, que é símbolo da reciprocidade, da evolução básica.

Encontramos o 4 simbolizado em diversas tétradas de divindades, como entre os fenícios, Baal, princípio masculino abstrato, Baan, princípio feminino abstrato, Cusoros, princípio masculino realizador, e Mot, princípio feminino realizador, ou ainda Indra, Mitra, Varuna e Agni, entre os brâmanes, etc.

Quatro são os evangelhos, quatro as letras que estão colocadas ao alto da cruz (I . N . R . I.) interpretadas geralmente como Jesus Nazarethus Rex Judaeorum, – Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus, que os hermetistas interpretam por Igne Natura Renovatur Integra, “pelo fogo é a natureza totalmente renovada.”

As quatro letras, no alfabeto hebraico, são as seguintes, com os seus significados: Jam, que significa o mar, água; Nour, o Fogo, a lâmpada, Ruah, o Ar, o sopro; e Iabeshah, a Terra, o sal.

Em alguns quadros renascentistas, a cruz imerge na terra, ergue-se para o ar ao céu, uma das extremidades aponta a água de um riacho e, a outra, ao Fogo, simbolizado por um raio.

Quatro são os soldados que partilham os despojos de Cristo, e o quatro encontramos em muitas passagens da Bíblia, sempre apontando a criação no sentido evolutivo e cíclico.

Aplicando a nossa dialética, que até aqui foi esboçada, é fácil compreendermos o uso simbólico do quaternário, mas antes examinaremos o sentido da tetractys, dos pitagóricos.

A unidade aponta à Mônada suprema, ao Ser Supremo, que é UM. Dois indica a oposição das duas positividades opostas, contrárias, os dois vetores de toda a criação, a Díada menor. As relações que surgem da díade dão surgimento à série.

Todo ser finito é composto de um ser ativo, determinante que é o seu ato, e um passivo, determinável, que é a sua potência. Se o que é em ato já é, o que é em potência ainda não é. Consequentemente o ser finito, em ato, não é tudo quanto pode ser. Falta-lhe algo, de algo carece, de algo está privado. Portanto, além do ato e da potência, há ainda a privação. Quando a potência se atualiza, o não-ser passa a ser. Da díade de ser e não-ser, na atualização, temos o não-ser que agora é. Neste caso, a síntese quase forma, entre as antíteses ser e não-ser, não é apenas triádica, mas quaternária, pois a síntese é a afirmação do que era antes e do não-ser anterior, cuja possibilidade podia atualizar. Na síntese, há ainda a afirmação da atualização da possibilidade, a negação do ser antes, e a negação do não-ser, e negação binária do ser anterior e do não-ser anterior, que estão, na síntese, afirmados e negados.

1.a fase: 1) Ser 2) Não-ser.

Quando o não ser recebe a “forma” nova, isto é, quando atualiza uma possibilidade, temos:

2.a fase 3) o Ser que era, já não é como era, para ser agora como é; 4) o não-ser, que não era, é agora.

O não-ser, ao receber a forma, nega-se como não-ser para afirmar-se como ser; mas, como ser agora, não deixa de afirmar a possibilidade que tinha antes, pois a atualização, que se dá agora, é também uma afirmação da possibilidade anterior.

Essa é uma maneira de compreender o quaternário como seria proposta dentro de uma dialética hegeliana, conciliada ao pensamento esotérico.

No pensamento exotérico das religiões e dos mitos, o quaternário refere-se ao aspecto da ordem cósmica em seus ciclos. Mas o cosmos é, por sua vez, um símbolo da Grande Mônada, do Ser Supremo, pois o exige, como já vimos.

Encontramos o quaternário em todas as classificações da natureza, em todas as esferas do conhecimento humano. Encontramo-lo no cosmos, também. Para os pitagóricos, é o quaternário, a tetractys, a origem de todas as coisas sensíveis, corpóreas, as quais podem ser vistas sob dez ângulos ou maneiras: unitária, diádica, ternária e quaternariamente.

É preciso compreender a tétrada pitagórica de dois modos: a tetractys suprema, e a tétrada inferior. A primeira refere-se à tríade divina e à criação, que comporia o Todo e Tudo. A segunda tétrada refere-se ao quaternário.

Da oposição (dois) surge a relação (três). A relação entre os opostos dá o surgimento do ser serial e evolutivo, o ser quaternário, o ser cósmico, que sucede na temporalidade. Todo o ser corpóreo é triadicamente composto, porque é o produto de um relacionamento. Mas tal relacionamento não é estático, mas dinâmico, e o ser corpóreo sucede, portanto, no tempo, onde desenvolve suas procissões ativas e passivas, o que caracteriza o seu evolver, a sua evolução.

Quatro simboliza assim a reciprocidade do ativo-passivo e do passivo-ativo, que sé dá em toda ordem cósmica.

Quatro é assim o símbolo da evolução corpórea, a evolução dos seres cronotópicos, que se dão, portanto, no tempo e no espaço. Corresponde, deste modo, à visão tempo-espacial da física moderna, às quatro dimensões da corporalidade.

O ser corpóreo é para os pitagóricos aquele que tem um princípio, um meio e um fim, e se desenvolve, em suas procissões ativas e passivas, no tempo e no espaço.

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