A IDÉIA DE SER EM ESQUEMAS DE NOSSA ÉPOCA
Mas ante o ser, que sempre é ser, ontologicamente considerado enquanto tal, os entes que compõem o mundo da minha experiência revelam uma constante variância.
Temos, de um lado, o que é determinado, e que sofre determinações, variâncias, e o que não o sofre, o que é sempre ele mesmo.
Á palavra existência, por exemplo, em latim exsistentia, nos revela o prefixo ex ao lado do termo sistentia. Este termo, que vendo grego istemi, significa estar em pé, estar parado.
O que muda é a prefixação e não o prefixado, e embora lhe aconteça a prefixação, permanece o que é, sistência.
Desta forma nos é possível dar ao conceito de sistência, o de ser enquanto ser.
Tudo é sistência, enquanto ser, mas é prefixado enquanto ‘acontece. Desta forma nos é possível estabelecer o seguinte quadro:
Prefixação do acontecer (ex, per, cum, sub, re, ad, des, super) — sistência.
E assim temos ex-sistência, in-sistência, per-sistência, con-sistência, sub-sistência, re-sistência, ad-sistência (assistência), des-sistência (desistência).
Todos os seres reais, ideais, metafísicos, ficcionais, etc. têm sistência mas essa sistência é prefixada, determinada.
Os números têm uma detenção e sistência, no espírito humano e na ordem do ser, como ainda veremos. São persistentes, pois o 3 é sempre 3, como o 5 é sempre 5, etc. Persistem através dos séculos e milênios, e são o , que são em todos os tratados de matemática de todos os tempos. Mas não os vemos re-sistir, não são resistentes, pois neles não se dá ações e reações, como vemos nos corpos. Acaso encontramos abaixo deles (sub) uma sistência? São acaso subsistentes?, Não, porque não encontramos neles uma realidade autêntica, de per se, de per si; que se ache sub, que sofra acidentes, pois, na verdade, os números, em si mesmos, não nos mostram acidentes. Uma,posição “platonizante” poderia aceitar a subsistência dos números, como formas, com perseidade, perseitas, ou então, pitagoricamente, subsistentes no ser.
Mas um número oferece, no entanto, uma outra determinação, como, por exemplo, o de consistência, “pois mantêm-se, formam uma coerência, uma solidez, embora ideal.
As figuras geométricas, como nos mostra Bacca, são também persistentes, são subsistentes, e não são tão consistentes como os números. Para as figuras se dá esse procedimento originalíssimo, que se chama coordenadas e projeção; e a “aparência” figurai de uma figura não é algo absoluto; depende do sistema de coordenadas e do tipo de projeção pura empregado. Agora sub, embaixo das figuras diversas de uma mesma figura se dá algo “estante”, um conjunto de invariantes geométricos puros, que constituem a “substância” própria da figura absoluta. O conjunto de propriedades de uma figura ideal não forma um bloco; cada sistema de coordenadas ou de projecção separa dois grupos de aspectos geométricos puros; um invariante e outro variável; e dentro do variável cabem diversas ordenações e subordinações. O geométrico puro não é con-sistente “totalmente”; é consistente “nuclearmente” (Bacca).
Os seres físicos são resistentes, persistentes, ex-sistentes.
São conseqüentemente mais determinados e possuem maior realidade determinada, prefixada.
Mas vê-se desde logo que há variância na persistência, pois uma pedra e um número são persistentes, mas de persistência diversa.
Desta forma, a aplicação da prefixação da sistência nos permite reconhecer duas realidades: a realidade sistencial e a realidade prefixada, determinada. A primeira corresponde analogicamente ao ser indeterminado de Hegel, e a segunda ao ser determinado. A sistência prefixa-se na existência, na persistência, na resistência. Todos os seres são sistências prefixadas. O Ser, enquanto ser, pode ser ontologicamente considerado apenas como sistente, mas de modo abstrato porque não lhe, podemos negar a ex-sistência.
A prefixação é da aptidão da sistência. A sistência é o que tem aptidão à prefixação. O ser determinado, prefixado, é a sistência que recebeu um prefixo, e este indica um modo de ser.
Desta, forma o ser (como sistência), quando se prefixa em ex-sistência, corpórea, isto é, quando a sua sistência se dá fora de suas causas, a sistência, que era tensão pura, se ex-tende, se in-tende, exterioriza-se extensionalmente, expansivamente, o que serve de conteúdo fático aos conceitos de extensidade e intensidade. Então, este ser re-siste.
Como a determinação de re-sistência é a indicação de um limite, de uma fronteira do ser, o ser quando assim prefixado é qualitativo, e, portanto, também quantitativo, porque, ao estender-se, se quantifica, é quantum, no sentido hegeliano.
Os seres são limitados por fronteiras (e aplique-se aqui a dialética hegeliano do limite, já estudada na Dialética, e novas sugestões nos surgem), enquanto o ser, como sistência, con,siderado apenas como sistência, não tem fronteiras, mas apenas perfil, como o definia Parmênides, pois como tal não precisa de outro para limitá-lo, pois é tudo. Não tem fronteiras, mas apenas um perfil, cromo nós, que temos perfil, embora apenas analogicamente com o ser, pois não somos o que somos porque nos limitam as coisas estereometricamente, como uma figura geométrica desenhada num quadro negro, que tem suas fronteiras nos limites entre o branco do giz e o preto do quadro