Classificava-as da seguinte forma:
a) o ser como existir em si, categoria da substância (ousia);
b) os modos de ser do ser que existe em si (substância), o que lhe sucede, o que se lhe ajunta, symbebekota (expressão um tanto irônica) que na filosofia escolástica foi substituída pelo termo accidente, mais expressivo, do verbo cadere, e da preposição ad, cair para diante, suceder.
Os acidentes são, portanto, os modos de ser da substância, os modos de ser que acontecem às substâncias:
O ser está no fundo de todas as coisas, pois todas as coisas (todos os entes) estão insertos no ser. O ser de um ente é a :sua substância e todas as outras categorias estão insertas nele de certo modo. A substância é o que existe em sisi mesmo, enquanto os acidentes existem em outro, (inaliedade).
Não reduz Aristóteles uma categoria a outra, mas elas se dão, juntas, na substância. A qualidade não é a quantidade, -nem o tempo o espaço. Mas todo o objeto corpóreo tem uma quantidade e qualidade, e se dá no tempo e no espaço (cronotopicamente).
Como não têm um gênero superior, as categorias são lógico-formalmente indefiníveis, como já vimos em “Lógica e Dialética”.
Mas sofrem oposições, contradições e contrariedades. Entre os contrários, que afetam a todas as categorias, cita Aristóteles, o ser e o não-ser, o um e o múltiplo, o mesmo e outro, o semelhante e o dessemelhante, o igual e o desigual, a potência e o ato.
As quatro primeiras categorias são fundamentais, mas as outras são acessórias. As categorias de tempo e espaço, etc. só se aplicam aos seres corpóreos.
A essas dez categorias, acrescenta Aristóteles cinco categorias (praedicabilia) que as completam, que são: o gênero, (genos), a espécie (eidos). a diferença (diaphora), o próprio (idion) e o accidente, (symbebekos).
Tais conceitos compreendem diversas ordens de relações. Assim o homem é uma espécie em relação ao animal, e animal um gênero em relação ao homem. Em seus trabalhos finais, Aristóteles reduziu as categorias a três: substância, qualidade e relação, mais consentânea com os atuais conhecimentos da física, e reduzia a quantidade à qualidade, (o que São Tomás aproveitou e considerou como melhor). Entretanto em “Filosofia e Cosmovisão” e “Lógica e Dialética”, já vimos que a redutibilidade do quantitativo ao qualitativo ou vice-versa, é decorrente de um vício abstratista do espírito humano. Por isso, a substituição que fizemos dessas categorias pelas de extensidade e de intensidade, (no cronotópico), mais dialéticas, a primeira por considerar a predominância do quantitativo sobre o qualitativo, e a segunda, a predominância do qualitativo sobre o quantitativo, apoiadas que são nos fatores de extensidade e de intensidade da física moderna, oferecem melhor campo de aplicação, pelo menos no que se refere ao mundo dos seres corpóreos.
Na primeira daquelas obras citadas, estudamos a classificação das categorias, proposta por Kant.
Fundamenta-as nas formas do entendimento, na faculdade de julgar. Nas operações complexas do operativo humano, as categorias as antecedem, e fundamentam os juízos.
Quadro dos juízos de Kant:
Desta forma, cada uma das 4 categorias, que são as fundamentais, compreendem três outras. As duas primeiras incluem as categorias estáticas, e, as duas últimas, as categorias dinâmicas. As primeiras são simples e as outras são duplas, e possuem termos correlativos (são correlativos porque um depende do outro para afirmar-se, pois a substância exige acidentes, e vice-versa; a necessidade a contingência, a causa o efeito, etc). A terceira categoria, em cada classe, é uma síntese das duas anteriores, que são antitéticas, opostas portanto. A totalidade por ex. é a totalidade tornada unidade; a limitação é a realidade unida à negação; a necessidade é a existência real, deduzida da pura possibilidade.
Para esclarecimento: o que Kant considera como juízo infinito é aquela proposição em que é positiva sob uma relação, e negativa sob outra. Kant dá o exemplo com a seguinte proposição: a alma é não-mortal, o que quer dizer que a alma está contida no infinito das coisas que não são perecíveis.
A classificação de Kant é combatida. Assim, por ex., é acusado de ter visto apenas três tipos de relação, e ainda que é arbitrária a sua classificação e sobretudo forçada.1
Volvendo aos primórdios da filosofia grega, recordemos as três categorias (a tríada) pitagórica: Absoluto substancial (ser); oposição (oposição dos vetores do ser) e relação. A reciprocidade entre as antinomias da oposição é uma relação entre os opostos. Todas as outras categorias são apenas gêneros das modalidades das três categorias fundamentais (arithmoi archai), sob as quais se pode compreender todos os entes. A justificação das categorias pitagóricas e o sentido da relação serão examinados em obra especial “Pitágoras e o Número”.
Queremos findar este artigo por uma síntese esquemática das categorias aristotélicas, como a colocam os tomistas, sintetizada por Gredt. Mas antes, embora se coloque cronologicamente posterior, vamos estudá-las, segundo a posição de Hegel.
O ser apresenta três faces para Hegel: tese, antítese e síntese.
Como tese, o ser é posto ante si mesmo, e como tal, é um. Mas o ser coloca-se numa variedade de coisas, e como tal é múltiplo e cada elemento da variedade é antitético aos outros. O ser é posto finalmente como parte e como todo, é então síntese, como no organismo, por exemplo.
São esses os princípios fundamentais que presidem à determinação do ser. A tese põe, a antítese nega-o, e a síntese concilia o objeto com a sua negação. Tese e antítese formam os pólos de uma oposição contraditória. A síntese é uma harmonia desses opostos. Em “Lógica e Dialética”, examinamos pormenorizadamente o processo dialético hegeliano, e não há necessidade de reproduzir aqui o que já dissemos naquela obra.
Esquema de Gredt das categorias aristotélicas segundo os tomistas:
Ens (Ser) é o predicado transcendental, que é predicado de todo gênero, mas apenas analògicamente.
A substância é o predicado que é subjeto. Os acidentes são o que não é suppositum, mas que estão no supósito.
Dos predicados, considerados como estando no supósito, temos, tomado absolutamente, consequente à matéria, a quantidade; consequente à forma, a qualidade.
Tomado relativamente, temos a relação. Daqueles predicados que não estão no supósito, quando tomados do que está totalmente fora do supósito, não sendo medida, temos o habitus; sendo medida, tempo e lugar; tomado do que está no supósito, apenas parcialmente fora, segundo o princípio, temos a ação, segundo o fim, temos a paixão, sofrer uma ação, aptidão da potência em sofrer uma ação.
O tema das categorias, que são de tanta importância e significação na Lógica, interessam, sob outros aspectos, à Ontologia, pela fundamental correspondência que há entre o lógico e o real, como ainda veremos.
NA: Uma ampla análise do pensamento kantiano, oferecemos em nosso livro de próxima publicação “Os três juízos, de Kant”. ↩