Respiração

ECLI

Se até o próprio Buda encontrou um subterfúgio para justificar a inutilidade do suicídio, não cabe então fazer a ninguém a menor objeção sobre essa questão. É mesmo espantoso que, de Buda até hoje, o problema do suicídio não tenha sido declarado assunto encerrado. É certo que o pensamento oficial nunca o abordou; mas por que um punhado de poetas e um par de filósofos ainda o discutem e o lembram? E esses inúmeros suicidas anônimos, como se atreveram a desonrar o nome de tão sábio personagem?

Nenhum homem deveria se aventurar na vida sem sentir-se dotado de uma força infinita. Por esta não entendo nem a força física nem a afirmação brutal e direta, mas uma acumulação de energia interior frente à qual empalideçam todas as forças físicas organizadas ou desorganizadas. Cada momento da vida deveria ser utilizado como ocasião para essa acumulação. Nos fracassos, e depois deles, é preciso adotar uma atitude de tensa imobilidade, de olhar agressivo e desafiador, com os punhos cerrados até a crispação e com o sangue fervendo em um calculado vulcanismo. Cada fracasso deve ser utilizado como prova da força e do desprezo. Seria preciso fixar as regras e os exercícios necessários para cultivar uma confiança absoluta em si mesmo, para vencer e sufocar todas as dúvidas. O ceticismo só pode ser superado por meio de uma ginástica cujo ritmo saia diretamente das ilusões e das dilatações da megalomania. Cada forma de ritmo é uma arma contra o ceticismo, o desespero e o pessimismo. O ritmo como reação voluntária não deveria faltar nunca no tratamento das doenças incuráveis, entre as quais figuram, em primeiro lugar, o ceticismo, o desespero e o pessimismo.

Dar à respiração uma importância ampla e concentrada, como se seus intervalos delimitassem intervalos cósmicos; tensionar os nervos como se fossem arcos prestes a quebrar-se; que a atividade de todos os órgãos se desenvolva na mesma medida que o nível geral; que o que chamamos espírito vibre até a última célula; e que a alma receba toda a força da carne, perdida no sono da matéria.

Alguns minutos diários desse exercício desenvolvem um sentimento de força infinita e acumulam uma energia interior através da qual podemos nos erguer acima dos pontos débeis da vitalidade. A tensão fantástica a qual submetemos nosso organismo dissolve o espírito no corpo e eleva a depressão orgânica a um nível que o corpo não poderia atingir por si só. No meio dessa confusão o homem é mais unitário e está mais centrado do que nesse estado de harmonia superficial que irresponsavelmente lhe transmite a saúde. Todos os homens saudáveis são irresponsáveis porque não podem responder a cada instante às questões da doença.