O ser humano é masculino-feminino e infantil-púbere

(Groddeck1991)

Essa realidade, de que o ser humano é masculino-feminino e infantil-púbere, e de que ele vive no símbolo, pode ser usada como uma lente colorida para observar a vida humana. Tal olhar, certamente, não nos aproxima mais da verdade do que ver tudo através de um fragmento vermelho ou amarelo; ao contrário, ao longo de um experimento assim, sabemos desde o início que, ao empregar essa lente colorida, estamos atribuindo falsas tonalidades ao universo. O autor dessas reflexões sabe, portanto, que, por seu método, colore de maneira monótona a diversidade do universo. Mas abordar os problemas humanos dessa forma não é meramente um divertimento deliberado; pelo contrário, esse método parece remontar tão longe quanto qualquer tradição do passado humano.

Observar o universo através de um meio desse tipo tem, como primeira consequência, a geração de desconfiança em relação à realidade. Existe um real, provavelmente, mas nunca entramos em contato direto com ele. Nosso isso modifica o X desconhecido do real, opera sobre os objetos e, do real, faz o operante. Obra e coisa não são idênticas. O ser humano não trabalha com um princípio de realidade, mas com um “princípio de operação”. Se considerarmos isso, a oposição entre eu e isso desaparece, e surge um universo humano no qual o eu é apenas uma função do isso. Esse universo operante do ser humano se desintegra na tentativa de compreender o real.


O ser humano é bissexual, nunca apenas homem, nunca apenas mulher, mas sempre mulher-homem, homem-mulher. Ele nunca é apenas criança, nunca é apenas adulto, mas sempre criança-homem, homem-criança. Isso é algo que todas as épocas expressaram, tanto no pensamento quanto na prática, no mito e na vida cotidiana. Não é apenas a arte cristã que representa o ser humano no símbolo da mulher e do menino, da Madona e do Cristo. A Antiguidade colocou Eros ao lado de Afrodite; Vênus e Cupido, ainda hoje, mesmo que há muito tenham se tornado apenas uma sombra do que foram antes, continuam como uma unidade, um símbolo do ser humano.