O ponto de vista está no corpo

GDPli

As massas e os organismos, os aglomerados e os seres vivos preenchem o andar de baixo. Então, porque é que precisamos de outro andar, uma vez que as almas sensíveis ou animais já lá estão, inseparáveis dos corpos orgânicos? Cada alma parece mesmo localizável no seu corpo, desta vez como um “ponto” numa gota, que permanece numa parte da gota quando esta se divide ou diminui de volume: assim, na morte, a alma permanece onde estava, numa parte do corpo, por mais pequena que seja. O ponto de vista está no corpo, diz Leibniz. É claro que tudo se passa mecanicamente nos corpos, segundo as forças plásticas que são materiais, mas estas forças explicam tudo, exceto os graus variáveis de unidade a que reduzem as massas que organizam (uma planta, um verme, um vertebrado…). As forças plásticas da matéria atuam sobre as massas, mas submetem-nas a unidades reais que elas próprias pressupõem. Elas criam sínteses orgânicas, mas pressupõem a alma como unidade de síntese, ou como “princípio imaterial da vida”. É apenas aqui que o animismo se junta ao organicismo, do ponto de vista da pura unidade ou união, independentemente de qualquer ação causal. O fato é que os organismos não teriam para si o poder causal de se dobrarem infinitamente, e de subsistirem em cinzas, sem as unidades-alma de que são inseparáveis, e que são inseparáveis deles. Esta é a grande diferença com Malebranche: não há apenas pré-formação de corpos, mas pré-existência de almas em sementes. Não há apenas vida por toda a parte, mas almas por toda a parte na matéria. Assim, quando um organismo é chamado a desdobrar as suas próprias partes, a sua alma animal ou sensível abre-se a todo um teatro, no qual percebe e sente segundo a sua unidade, independentemente do seu organismo, mas inseparável dele.