Aldous Huxley. Filosofia Perene.
Tal como Santo Agostinho, Eckhart foi até certo ponto vítima dos seus próprios talentos literários. Le style c’est l’homme (George-Louis Leclerc). Sem dúvida. Mas o inverso é também parcialmente verdade, l’homme c’est le style. Quando temos um dom para escrever de determinada maneira, damos por nós, de certa forma, a transformarmo-nos na nossa maneira de escrever. Moldamo-nos à semelhança do nosso tipo específico de eloquência. Eckhart foi um dos criadores da prosa alemã e foi tentado pela sua nova mestria de expressão vigorosa para se comprometer a posições extremas, para ser, de modo doutrinário, a imagem das suas afirmações demasiado enfáticas e poderosas. Uma afirmação como a anterior levaria a acreditar que Eckhart não gostava do que os vedantas denominam o «conhecimento inferior» de Braman, não como o Plano Absoluto de todas as coisas, mas como o Deus pessoal. Na realidade, Eckhart, como os vedantas, aceita o conhecimento inferior como conhecimento verdadeiro e considera a devoção ao Deus pessoal a melhor preparação para o conhecimento unitivo da Divindade. Outra questão a lembrar é que a Divindade sem atributos dos vedantas, do misticismo do budismo maaiana, cristão e sufi é o Plano de todas as qualidades do Deus pessoal e da encarnação. «Deus não é bom, eu sou bom», diz Eckhart na sua maneira violenta e exagerada. O que realmente quis dizer é, «Sou apenas humanamente bom, Deus é sobre-eminentemente bom, a divindade é, e o seu ser (istigkeit, no alemão de Eckhart) contém bondade, amor, sabedoria e tudo mais na sua essência e princípio». Consequentemente, a Divindade nunca é, para o exponente da Filosofia Perene, simplesmente o Absoluto de metafísicas académicas, mas algo mais puramente perfeito, mais reverentemente para ser adorada do que até o Deus pessoal ou a sua encarnação humana — um ser que é possível ser venerado de forma muito intensa e, em relação ao mesmo, é necessário (se se obtiver aquele conhecimento unitivo que é o derradeiro objetivo dos seres humanos) praticar uma disciplina mais árdua e incessante do que qualquer outra imposta por autoridades eclesiásticas.