(Groddeck1991)
Somos, pelo humano e por nosso universo circundante humanizado (educação, etc.), forçados a reprimir e levados a fantasiar sobre o real. Em primeiro lugar, não lidamos com objetos, mas com símbolos. Até agora, pouco se considerou como o recém-nascido aprende a conhecer o universo ao seu redor e o que ele pensa sobre isso. Se eu me perguntar o que posso ter sentido no ventre materno, chego à conclusão de que tomei, então, tudo o que entrava em meu universo como uma parte constituinte do meu próprio eu: eu e o universo ao redor eram a mesma coisa. Talvez esse modo de pensar simbólico seja ligeiramente modificado pelo nascimento; porém, observando o comportamento dos bebês em sua primeira fase de vida, suponho que a criança, no período de aprendizado fundamental da existência — nas primeiras horas, dias e semanas —, ainda pense essencialmente de forma simbólica: uma colher, para a criança, não é uma colher, mas uma mão; uma porta não é uma porta, mas uma boca; um leito não é um leito, mas um colo materno, etc.
Essas primeiras representações, que permanecem praticamente inalteradas nas culturas primitivas, nunca abandonam totalmente nosso consciente e inconsciente: até o fim da vida, o conhecimento humano continua ligado ao símbolo. Por mais eruditos que sejamos, isso não nos ajuda em nada: uma janela é, para nós, um olho; uma cavidade, uma mãe; e um poste, um pai.
O ser humano e suas partes também são vistos simbolicamente, como fazíamos na infância. Antes, por experiência, sabíamos que a cabeça, por si só, é ao mesmo tempo totalidade e parte, autônoma e dependente; que o ser humano é símbolo da cabeça, e a cabeça, símbolo do ser humano. “Símbolo” não designa a semelhança entre dois objetos, mas, no símbolo, dois objetos se unem, tornando-se uma única coisa. Como pensamos e sentimos simbolicamente, ou seja, como somos, em todos os aspectos, ligados ao símbolo como algo inerente à condição humana, é possível enxergar simbolicamente a vida humana, seja qual for.