Cassin2018
“Nostalgia”, a palavra soa perfeitamente grega, com nostos, o “retorno”, e algos, a “dor”, o “sofrimento”. A nostalgia é a “dor do retorno”, tanto o sofrimento que se sente quando se está longe quanto as penas que se enfrentam para voltar. A Odisseia, que junto com a Ilíada funda a língua e a cultura gregas, é a epopeia que um poeta cego que provavelmente nunca existiu, “Homero”, compôs para cantar as peripécias do retorno de Ulisses, o herói de mil artimanhas. É por excelência o poema da nostalgia.
No entanto, “nostalgia” não é uma palavra grega, não se encontra na Odisseia. Não é uma palavra grega, mas sim suíça, suíço-alemã. Na verdade, é o nome de uma doença catalogada como tal apenas no século XVII. Foi inventada, segundo o Dictionnaire historique de la langue française, em 1678, exatamente por um médico, Jean-Jacques Harder, para designar o mal da pátria, Heimweh, do qual sofriam os fiéis e caros mercenários suíços de Luís XIV – “sem dinheiro, não há suíços”. A menos que tenha sido cunhada em 1688 por Johans ou Jean Hofer, filho de um pastor alsaciano de Mulhouse, que aos dezenove anos dedicou a ela sua pequena tese de medicina na Universidade de Basileia, para descrever “histórias de jovens”, como o caso de um bernense, estudante em Basileia, que definhava mas se curou no caminho antes mesmo de chegar a Berna, e o de uma camponesa hospitalizada (“Ich will heim, ich will heim”, ela lamentava, recusando remédios e alimentos), curada ao voltar para casa – reconhece-se a origem de seu transtorno significativo.
Tornou-se imediatamente uma questão militar: os suíços desertavam quando ouviam o “ranz des vaches”, o canto dos pastos alpinos, “esse ar tão querido dos suíços – escreve Rousseau em seu Dictionnaire de la musique – que foi proibido sob pena de morte tocá-lo em suas tropas, porque fazia derramar lágrimas, desertar ou morrer aqueles que o ouviam, tanto excitava neles o ardente desejo de rever sua pátria”.
Foi, portanto, para designar uma doença dos suíços alemães que o corpo médico criou essa palavra, “nostalgia”, como se diz “lombalgia” ou “nevralgia”. Se insisto nisso, é porque a origem da palavra me parece muito representativa do que é uma origem: essa palavra, que conota toda a Odisseia, não tem nada de originário, de original, em suma, de “grego”. Ela é fabricada, historicamente mestiça (e como a origem não é precisamente um fato da história, seria preciso dizer “historialmente”, para retomar o termo cunhado por Heidegger), e serve, como todas as origens, a uma finalidade retrospectiva. A tipografia da Dissertatio de nostalgia testemunha isso, com suas maiúsculas latinas para DISSERTATIO MEDICA, suas maiúsculas gregas para a palavra forjada ΝΟΣΤAΛΓΙA e, em letras góticas minúsculas, oder Heimweh, “o mal da pátria”. Quase foi eclipsada por philopatridomania (“a loucura do amor pela pátria”), também proposta por Harder, por pothopatridalgia (“a dor do desejo-paixão pela pátria”), cunhada por Zwinger, e pelo subtítulo Heimsehnsucht dado por Haller… Mas foi nostos, “o retorno”, que triunfou.
Consultando o Chantraine, aprendemos pouco desta vez: nostos deriva de neomai, que significa “voltar, retornar”, e depende de uma raiz cujo sentido ativo seria “salvar”; anostos significa “sem retorno, que não dá grão”; Nestor é o nome de “aquele que retorna felizmente, que traz felizmente seu exército de volta”; e, em grego moderno, nostimos tem o sentido de “saboroso, gentil”. O sentido provável da raiz é “retorno feliz, salvação”, encontramo-la no germânico, no anglo-saxão (“ser curado, salvo, sobreviver” e “salvar, curar, nutrir”), o sânscrito tem palavras correspondentes a neomai: como nasate, “aproximar-se, unir-se”, a ligeira diferença de sentido não sendo um obstáculo decisivo, talvez próxima de nimsate, “eles abraçam, tocam com a boca” – o retorno e o amor não estão desvinculados.