Kant (A:251) – apetite – inclinação – desejo – ânsia – paixão

Clélia Martins

Apetite (appetitio) é a autodeterminação da força de um sujeito mediante a representação de algo futuro como um efeito seu. O apetite sensível habitual chama-se inclinação. Apetecer, sem o emprego de força para a produção do objeto, é desejo. Este pode ser dirigido a objetos que o sujeito mesmo se sente incapaz de produzir, e é então um desejo vazio (ocioso). O desejo vazio de poder elidir o tempo que há entre apetecer e obter aquilo que apetece, é ânsia. O apetite por um objeto indeterminado (appetitio vaga), que apenas impele o sujeito a sair de seu estado presente, sem saber em qual pretende entrar, pode ser chamado de desejo humoroso (ao qual nada satisfaz).

A inclinação que a razão do sujeito dificilmente pode dominar, ou não pode dominar de modo algum, é paixão. Em contrapartida, o sentimento de prazer ou desprazer no estado presente, que não deixa a reflexão aflorar no sujeito (a representação da razão, se se deve entregar ou resistir a ele), é afecção.

Estar submetido a afecções e paixões é sempre uma enfermidade da mente, porque ambas excluem o domínio da razão. Ambas são também igualmente violentas segundo o grau, mas, no que diz respeito à qualidade delas, essencialmente diferentes uma da outra, tanto no método de prevenção quanto no de cura a ser empregado pelos alienistas. (KANT, Immanuel. Antropologia de um ponto de vista pragmático. Tr. Clélia Aparecida Martins. São Paulo: Iluminuras, 2006, p. 251)

Robert Louden