Jaspers – O pensamento que esclarece a existência

Toda a busca filosófica pode, em sentido lato, ser chamada esclarecimento da existência. Este esclarecimento tanto produz o pensamento que se orienta no mundo e a metafísica, como o que leva especificamente este nome. Se viso o Todo, eu me perco em sua abertura infinita e me encontro como que rejeitado; no retrocesso o que fica em relevo não é o meio vital para o qual resvalo a partir do Todo, mas eu mesmo, minha liberdade. Se já experimentei em metafísica que nenhuma das suas formas objetivas é universalmente válida, esse malogro mais uma vez me atinge, de tal maneira que meu ser se esclarece, em minha liberdade, como destinado à transcendência.

Mas, embora não exista nenhuma pesquisa filosófica que não esclareça a existência, é preciso, contudo, falar aqui desse esclarecimento num sentido especial: é uma linguagem que utiliza os sinais originais e as minhas próprias possibilidades para tornar sensível o incondicional contraposto ao relativo, a liberdade à simples generalidade, o infinito da existência possível à finitude da realidade empírica. Mas a objetividade assim constituída no pensamento me há de rejeitar de novo, devolvendo-me a mim mesmo. Contudo esta rejeição tem um caráter diferente da rejeição do Todo ou da transcendência: lá a existência se referia a algo diferente, aqui, ela se refere ao pensamento da sua própria possibilidade. O pensamento tendente a esclarecer a existência, é por ela rejeitado; o esclarecimento da existência se acha aqui girando em torno de si mesmo.

O pensamento que esclarece a existência, incapaz de nos dar o conhecimento de ser, gera, em compensação a certeza dele, quando age na vida; torna possível a certeza do ser, quando, usando a linguagem da filosofia como meio de transmissão, lança seu apelo a outrem. Aceita sem reservas o risco de se encontrar “em suspenso” após a orientação no mundo. Mas a clareza que, em todas as dimensões acessíveis à pesquisa filosófica, impregna a liberdade da existência, torna a sua transcendência mais manifesta. Todos os seus caminhos desembocam na metafísica.

Enquanto o homem é capaz de se elevar acima da sua condição empírica, a busca filosófica o impele a abalançar-se à metafísica. A metafísica mostrará ao sujeito existencial o lugar onde – partindo do mundo, na comunicação entre as existências, – a transcendência fala. E aí que o homem encontrará o que é verdadeiramente importante para ele. É aí que ele se pode enganar mais profundamente, aí também que ele pode, mediante o pensamento, achar a certeza mais profunda de si mesmo.

(Philosophie, I, págs. 32-33)

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