Formalização e Hiperformalização (Zubiri)

Zubiri1980

Eu já disse que é a formalização o que abre toda a riqueza da vida do animal. Quanto mais formalizada estiver a impressão de estimulidade, tanto mais rica será a unidade interna do estímulo. O próprio conteúdo de “cor” é para o caranguejo signo de uma presa. Mas essa mesma cor, apreendida em constelações mais ricas, constitui uma grande variedade de signos objetivos. O chimpanzé apreende “coisas” muito mais variadas e ricas que as apreendidas por uma estrela-do-mar. Daí que o elenco de respostas adequadas a uma suscitação muito formalizada possa ser muito mais variado do que no animal menos formalizado. Por isso, o animal tem então de “selecionar” suas respostas. No entanto, a unidade de suscitação, tonicidade e resposta, apesar de toda a sua riqueza e variedade, encontra-se em princípio assegurada pelas estruturas do animal em questão, dentro naturalmente de seus limites de viabilidade. Por isso, tem seus rigorosos limites filogenéticos. Esses limites são precisamente as fronteiras entre o animal humano e os demais animais.

Ao longo da série zoológica, graças à formalização, o animal vai sentindo seus estímulos como “notas-signo” cada vez mais independentes do próprio animal; ou seja, sente o estímulo como algo que se vai tornando cada vez mais descolado do apreensor. Mas essa formalização atinge um ponto, por assim dizer, extremo. O estímulo foi-se apresentado como algo tão independente do animal, tão afastado dele, que acaba finalmente por “ficar” totalmente descolado dele: a formalização se transformou em hiperformalização. O homem é este animal hiperformalizado. “Hi-per” tem aqui um sentido muito preciso: significa, como acabo de dizer, que a independência veio a apresentar o estímulo como algo totalmente descolado do animal humano. Então, a situação animal do homem mudou completamente.