O primeiro princípio da doutrina-da-ciência enuncia: Eu = Eu”1. Naturalmente, isso soa trivial, como, porém, lentamente notaremos, não é. Poder-se-ia pensar que se poderia igualar tudo a si mesmo de maneira não informativa. Isso é chamado de tautologia. Mas, e no que diz respeito a
O quadrado redondo = o quadrado redondo
Ou
O rei atual da França = o rei atual da França
para que algo possa ser idêntico consigo mesmo, ele precisa aparentemente existir. Não há um quadrado redondo e não há mais um rei atual da França (Nicolas Sarkozy foi um caso especial…). Esse problema, porém, não se dá com o Eu, uma vez que “o Eu” não significa a princípio nada além do que aquela, aquele ou aquilo que sabe algo. Afinal, queremos desenvolver uma doutrina-da-ciência, ou seja, pensamentos sobre como é possível que diferentes áreas do saber estejam conectadas. “O Eu” é o nome, então, para que haja alguém que sabe algo. Isso não pode ser colocado em questão. É que, caso se coloque em questão por algumas razões que haja alguém que sabe algo, não se poderia saber por sisi mesmo que há tais razões! Essa é a versão reduzida de Fichte do cogito cartesiano. “Penso, logo existo” se torna, em Fichte, “Eu = Eu” ou, justamente, “Eu sou Eu”. O primeiro princípio garante, então, que, no âmbito do saber, há pelo menos um elemento que é idêntico a si mesmo: o Eu. Se eu sei que chove neste momento em Londres, e também ainda sei que 2 + 2 = 4, eu não me distendo em dois seres: o que sabe que chove e o que sabe que 2 + 2 = 4. (MGCérebro)