Zubiri1982
Em que se funda a abertura? A abertura de que aqui tratamos é um modo de atualidade, e como tal afeta formalmente a intelecção enquanto tal. Se nossas intelecções não fossem mais que uma adição simultânea ou sucessiva de vários atos de inteligir, não haveria lugar para falar de abertura. Mas isso não é assim. Porque o termo formal e radical da atualidade intelectiva é impressão de realidade; quer dizer, a intelecção em que o real se atualiza é constitutivamente senciente. E a impressão mesma de realidade é formalmente aberta; é, como já vimos na Primeira Parte, a transcendentalidade da impressão de realidade. Então, a diversidade de intelecções pode ser às vezes a exibição de uma mesma impressão de realidade. É nesta exibição que o real fica atualizado não só em e por si mesmo, mas também “entre” outras coisas reais. Disso resulta que a primária apreensão intelectiva do real torna necessária a versão para outras apreensões intelectivas. Esta versão é justamente a abertura, ou melhor, é a expressão da abertura: toda intelecção é uma versão, e é versão porque é constitutivamente aberta, e é constitutivamente aberta porque é constitutivamente senciente. E, como a atualidade intelectiva do real é a verdade, sucede que a abertura da intelecção é abertura da verdade e à verdade. Por ser senciente a intelecção, a verdade é constitutivamente aberta. Cada verdade implica as outras e está incoativamente vertida a elas. A abertura é a radical condição segundo a qual todo o real é apreendido, ou atualmente ou incoativamente, entre outras realidades.