Evanescer do mundo

Cavell1989

[…] a filosofia tem a ver com a capacidade perplexa de chorar o evanescer do mundo. (Ao final de “Experience”, isto é bastante explícito: “A vida da verdade é fria e até agora marcada pelo luto”.) Foi mais ou menos isso que falei de início a respeito de Walden, ao afirmar que o livro é construído, e sua edificação para nós se ergue, entre outras coisas, na identificação entre luto [mourning], ou seja, sofrimento, e manhã [morning], ou seja, raiar do dia, como se a dor e o sofrimento fossem os portais do êxtase, manifestando a escrita filosófica como o ensino da capacidade de fazer raiar o dia, mostrando o percurso do luto, do reiterado desinvestimento daquilo que passou. Segundo Freud, este é o caminho (de volta) para o mundo, um reinvestimento do interesse em sua descoberta, algo que Freud chama de sua beleza. (O texto freudiano fundamental aqui, ainda mais diretamente do que “Luto e melancolia”, é “Sobre a transitoriedade”, de 1918). Ao levar tais pensamentos para “Experience” de Emerson, estou de fato reconhecendo Thoreau como o mais puro intérprete de Emerson, não havendo ninguém assim tão preciso, tão exclusivo.