Espinosa (Tratado Breve, XVIII): somos partes dependentes e regidas da Natureza

Rocha Fragoso & Guimarães Oliva

(1) Assim vemos que o homem, como parte da Natureza inteira, da qual depende e pela qual também é governado, não pode fazer nada por si mesmo para sua salvação e seu bem-estar. Vejamos agora quais são as maiores utilidades que podem nos aportar as nossas proposições ; tanto mais que, sem nenhuma dúvida, a alguns elas parecerão não pouco chocantes.

(2) Antes de tudo, daí segue que somos verdadeiramente servidores, e mesmo escravos de Deus, e que nossa maior perfeição é sê-lo necessariamente. Pois se fôssemos deixados a nós mesmos, e não na dependência de Deus, poderíamos realizar muito pouco, ou mesmo nada ; e a justo título tiraríamos disso uma causa de entristecimento. Todo o contrário é o que vemos agora, a saber, que dependemos do perfeitíssimo de tal maneira que somos como uma parte do todo, isto é, Dele mesmo ; e, por assim dizer, contribuímos em certa medida para a realização de tantas obras habilmente ordenadas e perfeitas que dependem dele.

A. Wolf

Paul Janet