GMarcel1967
Em francês, a palavra “être” apresenta o grave inconveniente de ser anfibológica, já que é ao mesmo tempo substantivo e verbo. Para dissipar essa ambiguidade, os [32] filósofos que se inspiram na ontologia heideggeriana tentaram introduzir a palavra “étant”, usada como substantivo. Atualmente, parece bastante duvidoso que essa palavra “étant” possa se tornar corrente entre os filósofos. No entanto, Gilson observa que um autor do século XVII, Scipion du Pleix, intitulou o segundo livro de sua metafísica: “O que é o ‘étant’?” Os filósofos, diz ele, adaptaram essa palavra “étant” para uso como um puro nome, tomando-a simples e absolutamente como “qualquer coisa que seja”, desde que exista realmente, verdadeiramente e de fato, como: Anjo, Homem, Metal, Pedra, etc. Mas em francês, foi a palavra “être” que prevaleceu, mesmo nesse sentido, e, segundo Gilson, poderíamos concluir, ao que parece, que foi o sentido verbal que, no final, prevaleceu. Ainda assim, a ambiguidade persiste; quando em francês pergunto: “O que é o ‘être’?”, estou querendo dizer simplesmente: o que é existir? Ou seja, o fato de ser? Ou, ao contrário, estou designando, por meio da palavra “être”, o “étant”? Se tomarmos os termos latinos, diremos: “A investigação diz respeito ao ‘esse’ ou ao ‘ens’?” Em inglês, é preciso reconhecer que a ambiguidade é ainda mais incômoda, pois a palavra “being” corresponde exatamente a “ens” ou ao que chamei em francês de “étant”. Mas então torna-se muito difícil, exceto pela adição de outra palavra como “fact” ou “act”, designar o “esse” propriamente dito, e isso se deve ao fato puramente gramatical de que o particípio presente desempenha na língua inglesa o mesmo papel que o infinitivo substantivado em grego ou em alemão, por exemplo.