Unamuno, 2021

Uma vez mortos, somos todos iguais, isto é, todos igualmente cadáveres. E é por isso que Salomão disse que acontecerá o mesmo ao sábio e ao insensato (Eclesiastes 2, 14). E também se morre intelectualmente. E as ideias morrem. E há cadáveres de ideias—guardadas em suas caixas—isto é, lugares-comuns. E não existe nenhuma comunidade como a da morte. Por isso, os comunistas, os verdadeiros, se dedicam a matar.

Nada é mais característico do imbecil repetidor do que se dedicar à filosofia da história ou à sociologia, ou seja, à arte de profetizar o passado. Para profetizar o futuro, por outro lado, é necessária originalidade. Foi, portanto, um imbecil iniciador, um original, aquele que disse: “Se eu não morrer de outra coisa antes, morrerei de angina de peito.” Aliás, a respeito desta, os médicos distinguem a verdadeira da falsa: a verdadeira é aquela que mata e a falsa, aquela com a qual se vive—e o mesmo acontece com a fé e com todo o resto. É como com a moeda: a verdadeira circula, a falsa não. E para que a falsa circule, basta fazer com que se acredite que ela circulará. Dá-se o nome de crédito ao ato de fazer com que todos creiam que os outros acreditam que todos, exceto um—o credenciado—têm condições de responder, embora todos saibam que isso não é verdade.

Pois nós, imbecis, acreditamos saber que existe um Dicionário enciclopédico de todas as imbecilidades pensáveis, e até mesmo impensáveis, que Adão redigiu depois de nomear todos os animais, como é dito no Gênesis (2, 19-20), e antes que Eva fosse retirada de uma de suas costelas.

E esse dicionário é a verdadeira “Bíblia da humanidade”, uma Bíblia que não está escrita, mas gravada, antes do nascimento, em todas as mentes. E toda a experiência da vida se resume a ler essa Bíblia para, depois, ser obrigado a esquecê-la.