Não há fim para a ilusão
(Experience, Emerson1844)
O sonho nos entrega ao sonho, e não há fim para a ilusão. A vida é uma sucessão de humores como um colar de contas, e à medida que passamos por eles, revelam-se lentes multicoloridas que pintam o mundo com seu próprio tom, cada uma mostrando apenas o que está em seu foco. Da montanha, você vê a montanha. Animamos o que podemos, e vemos apenas o que animamos. A natureza e os livros pertencem aos olhos que os veem. Depende do humor do homem se ele verá o pôr do sol ou o belo poema. Há sempre pores do sol, e há sempre génio; mas poucas horas são tão serenas que possamos saborear a natureza ou a crítica. O mais ou menos depende da estrutura ou do temperamento. O temperamento é o fio de ferro no qual as contas estão enfiadas.
De que serve a fortuna ou o talento para uma natureza fria e defeituosa? Quem se importa com a sensibilidade ou discernimento que um homem demonstrou em algum momento, se ele adormece na cadeira? Ou se ri e gargalha? Ou se se desculpa? Ou está infectado de egoísmo? Ou pensa em seu dinheiro? Ou não consegue passar sem comida? Ou teve um filho na adolescência? De que serve o génio, se o órgão é muito convexo ou muito côncavo e não consegue encontrar uma distância focal dentro do horizonte real da vida humana? De que serve, se o cérebro está muito frio ou muito quente, e o homem não se importa o suficiente com os resultados para se estimular a experimentar e se manter firme nisso? Ou se a teia é tecida com fios demasiado finos, muito irritável pelo prazer e pela dor, de modo que a vida estagna por receber demasiado sem a devida saída?
De que serve fazer votos heróicos de melhoria, se o mesmo velho infrator das leis vai cumpri-los? Que consolo pode o sentimento religioso oferecer, quando se suspeita que ele depende secretamente das estações do ano e do estado do sangue? Conheci um médico espirituoso que encontrava o credo no ducto biliar e costumava afirmar que, se houvesse doença no fígado, o homem se tornava calvinista, e se esse órgão estivesse saudável, tornava-se unitarista. Muito humilhante é a experiência relutante de que algum excesso hostil ou imbecilidade neutraliza a promessa do génio. Vemos jovens que nos devem um mundo novo, tão prontamente e com tanta generosidade prometem, mas nunca quitam a dívida; morrem jovens e escapam da conta; ou, se vivem, perdem-se na multidão.
