(Experience, Emerson1844)

Os antigos, impressionados com essa irreductibilidade dos elementos da vida humana ao cálculo, elevaram o Acaso à condição de divindade; mas isso é deter-se por muito tempo na centelha, que brilha verdadeiramente num ponto, enquanto o universo está aquecido pela latência do mesmo fogo. O milagre da vida, que não será explicado e permanecerá um milagre, introduz um novo elemento. No crescimento do embrião, Sir Everard Home, creio eu, observou que a evolução não partia de um ponto central, mas ocorria de forma coativa a partir de três ou mais pontos. A vida não tem memória. Aquilo que procede em sucessão poderia ser lembrado, mas o que é coexistente, ou ejaculado de uma causa mais profunda, ainda longe de ser consciente, desconhece sua própria tendência. Assim é conosco: ora céticos ou sem unidade, porque imersos em formas e efeitos que parecem ter valor igual, mas hostil; ora religiosos, ao recebermos a lei espiritual.

Suportai essas distrações, esse crescimento simultâneo das partes; um dia elas serão membros e obedecerão a uma só vontade. Nessa única vontade, nessa causa secreta, fixamos nossa atenção e esperança. A vida assim se dissolve em expectativa ou religião. Sob os detalhes triviais e desarmônicos, há uma perfeição musical; o Ideal caminhando sempre conosco, o céu sem rasgão ou costura. Observai apenas o modo de nossa iluminação. Quando converso com uma mente profunda, ou quando, estando sozinho, tenho bons pensamentos, não chego imediatamente à satisfação, como quando, com sede, bebo água; ou me aproximo do fogo, sentindo frio. Não! Primeiro, tomo consciência da proximidade de uma nova e excelente região da vida. Persistindo na leitura ou no pensamento, essa região dá mais sinais de si, como que em lampejos de luz, em súbitas revelações de sua beleza e repouso profundos, como se as nuvens que a cobriam se abrissem em intervalos e mostrassem ao viajante as montanhas do interior, com as eternas campinas tranquilas estendidas em sua base, onde pastam rebanhos e pastores tocam flauta e dançam.

Mas todo insight desse reino do pensamento é sentido como inicial e promete uma sequência. Eu não o crio; chego lá e contemplo o que já estava lá. Eu criar? Oh, não! Bato palmas com alegria e espanto infantis diante da primeira abertura para mim dessa augusta magnificência, antiga pelo amor e homenagem de inúmeras eras, jovem com a vida da vida, a Meca resplandecente do deserto. E que futuro ela revela! Sinto um novo coração batendo pelo amor dessa nova beleza. Estou pronto para morrer fora da natureza e renascer nessa América nova e ainda inatingível que encontrei no Oeste:

“Pois nem agora nem ontem começaram Estes pensamentos, que sempre existiram, nem jamais Se encontrará um homem que soubesse de seu primeiro surgimento.”