(Groddeck1991)
Como a alma — ou o espírito, ou ambos — se introduz no ser humano, a arte, certamente, não sabia, mas a ciência também não sabe. A divindade insuflaria a alma, esse é o sentimento do pensamento primitivo; nós, que somos sábios, contamos uma história de óvulo e espermatozoide, de tropismo, de cromossomos e genes, e descrevemos, na Universidade e em outros lugares, um processo altamente complexo, chamado fecundação; mas, em última análise, por trás de tudo isso, ainda se esconde a divindade, que faz o que quer. Falamos com mais propriedade sobre esses processos, mas continua sendo necessário, para o surgimento do ser humano, uma cavidade na qual algo é introduzido, algo com a qualidade da eternidade, que não tem começo, a menos que seja Deus, e do qual esse algo emerge transformado, mas, ao mesmo tempo, inalterado. E permanece o fato de que o útero e a cavidade torácica são simbolicamente semelhantes, que respirar e copular estão estreitamente associados: como um movimento de vaivém, e como um tornar-se vivo dentro da cavidade.
De repente, percebemos que o que vale para o útero e a cavidade torácica também é verdade simbolicamente para o ventre, o crânio, o olho ou o ouvido, que nem mesmo é necessária uma cavidade, mas que, em todas as partes do ser humano, o nascimento surge porque o feminino e o masculino estão em toda parte, porque o ser humano, seja qual for, contém a santa tríade homem-mulher-criança, independentemente de esse humano ser chamado no cotidiano de espírito, alma ou corpo, seja uma função orgânica, como a digestão ou a circulação, ou uma ação, como pensar, compor, amar, cortar cupons, dirigir um carro ou transmitir uma sabedoria sublime.