(Jullien2009)
Voltando-me primeiro, por conveniência, aos termos rivais entre os quais a filosofia contemporânea se dividiu, explicarei assim mais calmamente minha surpresa (diante da fotografia de vinte anos atrás): seria a de um ‘sujeito’ que de repente se descobre ‘processo’ e se vê submerso – absorvido – nele. Eu me considerava um sujeito: sujeito de iniciativa, concebendo e querendo, ativo ou passivo, mas sempre mantendo a sensação de seu ser e possuindo-se a si mesmo; que, sem dúvida, sabe-se inserido em toda uma rede de interações que o envolvem, tanto externas quanto internas, mas ainda assim se considera ‘causa de si’, segundo a expressão cara à metafísica, causa sui. E eis que, diante de meus olhos, essa perspectiva de repente se desequilibra violentamente, capotando para esta outra: a de um curso ou continuum cuja única consistência reside na correlação de fatores entre si – entre si e como sem consideração por ‘mim’ – e do qual procede sem interrupção, de maneira óbvia mas imperceptível, essa evolução global. ‘Eu’ sou esse (desse) ‘envelhecer’. Pois o envelhecimento não é apenas uma propriedade ou um atributo do meu ser, nem mesmo uma alteração gradual aplicada à sua constância e estabilidade; mas sim um encadeamento consequente, global e autoexpansivo, do qual o ‘eu’ é o produto sucessivo. Talvez nem seja mais do que seu indicador conveniente. Diante da fotografia de vinte anos atrás, é essa validade do ‘sujeito’ que subitamente falha. O que não significa, no entanto, que a noção seja falsa, que devamos renunciar à sua opção de autonomia e Liberdade, mas que sua pertinência se revela subitamente limitada. Ela encobriu com demasiada facilidade outra que, abruptamente, diante desse vestígio de vinte anos atrás, ressurge brutalmente à tona e cria vertigem.