Categoria: Nietzsche, Friedrich

  • 341. O maior dos pesos. — E se um dia, ou uma noite, um demônio lhe aparecesse furtivamente em sua mais desolada solidão e dissesse: “Esta vida, como você a está vivendo e já viveu, você terá de viver mais uma vez e por incontáveis vezes; e nada haverá de novo nela, mas cada dor…

  • O sentimento moral é presentemente na Europa tão fino, tardio, múltiplo, irritável, refinado, quanto a “ciência moral” é ainda jovem, principiante, entorpecida e grosseira; um contraste atraente, que por vezes se manifesta na própria pessoa do moralista. O próprio título “ciência da moral” é relativamente aquilo que quer significar muito presunçoso e contrário ao bom…

  • A suposição de um sujeito não é, talvez, necessária; do mesmo modo, seria talvez permitido supor uma multiplicidade de sujeitos, cujo jogo de conjunto e luta jaz como fundamento do nosso pensar e em geral de nossa consciência? Uma espécie de aristocracia de “células”, nas quais repousa o domínio? Certamente de pares 1 que estão…

  • Seguindo o fio condutor do corpo. — Posto que “a alma” foi um pensamento atraente e misterioso, do qual os filósofos, com razão, só se separaram a contragosto — talvez aquilo pelo que eles, a partir de então, a trocaram seja ainda mais atraente, ainda mais misterioso. O corpo humano, no qual tanto o passado…

  • Tudo o que entra na consciência como “unidade” é já imensamente complicado: temos sempre somente uma aparência de unidade. O fenômeno do corpo é o fenômeno mais rico, mais claro, mais compreensível: deve ser posto metodicamente em primazia, sem que descubramos algo sobre seu significado último. Everything that enters consciousness as “unity” is already tremendously…

  • Contra o positivismo, que fica no fenômeno “só há fatos”, eu diria: não, justamente não há fatos, só interpretações (Interpretationen). Não podemos verificar nenhum fato “em si”: talvez seja um absurdo querer uma tal coisa. “Tudo é subjetivo”, dizeis: mas já isso é interpretação (Auslegung). O “sujeito” não é nada de dado, mas sim algo…

  • Qual pode ser a nossa doutrina? — Que ninguém dá ao ser humano suas características, nem Deus, nem a sociedade, nem seus pais e ancestrais, nem ele próprio (— o contra-senso dessa última ideia rejeitada foi ensinado, como “liberdade inteligível”, por Kant, e talvez já por Platão). Ninguém é responsável pelo fato de existir, por…

  • O julgar (Urtheilen) é a nossa crença (Glaube) mais antiga, nosso mais habitual considerar verdadeiro ou não verdadeiro, um afirmar ou negar, uma certeza de que algo é assim e não de outra maneira, uma crença de ter, aqui, realmente “conhecido” — o que em todo julgar é tido como verdadeiro? O que são predicados?…

  • La distinction entre l’ésotérique et l’exotérique, autrefois adopté par les philosophes hindous, grecs, perses et mulsumans, partout où l’on croyait à une hiérarchie et non à une égalité de fait ou de droit, cette distinction ne repose pas autant qu’on le croit sur le fait que le philosophe exotérique reste à l’extérieur et doit tout…

  • 316. Tout ce que nous expérimentons est communication. Ainsi le monde est en fait une communication — une révélation de l’esprit. Le temps n’est plus où l’esprit de Dieu était intelligible. On a perdu le sens du monde. Nous en sommes restés à la lettre. Nous avons perdu ce qui apparaissait par-delà l’apparition. L’essence de…

  • O conceito-substância é uma consequência do conceito sujeito: não o inverso! Se abandonarmos a alma, “O sujeito”, então falta a pressuposição para uma “substância” em geral. Obtêm-se graus do que é, perde-se o que é. Crítica da “realidade” [“Wirklichkeit”]: a que conduz o “mais ou menos realidade (Wirklichkeit) ”, a gradação do ser em que…

  • — por meio do pensar é posto o eu; mas até agora se acreditou, como o povo, que no “eu penso” jaz algo de imediatamente certo e que esse “eu” seria a causa dada do pensar, e por analogia com ela todos nós entenderíamos as outras relações causais. Por mais que essa ficção agora possa…

  • Mantenho a fenomenalidade também do mundo interior: tudo o que se nos torna conscientes é, completamente, primeiro preparado, simplificado, esquematizado, interpretado — o processo real (wirklich) da “percepção” interna, a unidade causal entre pensamentos, sentimentos, desejos, como aquela entre sujeito e objeto, é completamente oculta para nós — e talvez seja uma pura ilusão. Esse…

  • 58. O que se pode prometer. — Pode-se prometer atos, mas não sentimentos; pois estes são involuntários. Quem promete a alguém amá-lo sempre, ou sempre odiá-lo ou ser-lhe sempre fiel, promete algo que não está em seu poder; mas ele pode prometer aqueles atos que normalmente são consequência do amor, do ódio, da fidelidade, mas…

  • 3. Alguém, no final do século XIX, tem nítida noção daquilo que os poetas de épocas fortes chamavam inspiração? Se não, eu o descreverei. — Havendo o menor resquício de superstição dentro de si, dificilmente se saberia afastar a ideia de ser mera encarnação, mero porta-voz, mero medium de forças poderosíssimas. A noção de revelação,…

  • A questão da origem de nossas estimações e tábuas de valores (Gütertafeln) não coincide, de maneira alguma, com a sua crítica, como tão frequentemente se acreditou: se bem que o entendimento de uma pudenda origo [[Em latim no original: “origem infame”, “origem vergonhosa”. (N.T.)] qualquer para o sentimento traz consigo uma depreciação da coisa assim…

  • Na imensa multiplicidade do acontecer no interior de um organismo, a parte que se nos torna consciente é um mero cantinho: e o bocadinho de “virtude”, a “abnegação” e ficções semelhantes são desmentidas, de maneira perfeitamente radical, pelo restante total do acontecer. Fazemos bem em estudar nosso organismo em sua perfeita imoralidade… As funções animais…

  • 345 — O problema da moral. — A falta de personalidade vinga-se por toda a parte; uma personalidade enfraquecida, frágil, apagada, que se nega e se renega a si própria deixa de valer seja o que for, sobretudo para a filosofia. O “desinteresse” não tem algum valor, nem no céu nem na terra; os grandes…

  • Quando se fala da superstição dos lógicos não deixo nunca de insistir num pequeno fato que as pessoas que padecem desse mal não confessam senão através de imposição. É o fato de que um pensamento ocorre apenas quando quer e não quando “eu” quero, de modo que é falsear os fatos dizer que o sujeito…

  • “É pensado: consequentemente há pensante”: a isso chega a argumentação de Cartesius (Descartes). Mas isso significa postular nossa crença no conceito de substância já como “verdadeira a priori” — que, quando seja pensado, deva haver alguma coisa “que pense” é, porém, apenas uma formulação de nosso hábito gramatical, que põe para um fazer (Tun) um…