Categoria: Nietzsche, Friedrich
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11. A linguagem como suposta ciência. — A importância da linguagem para o desenvolvimento da cultura está em que nela o homem estabeleceu um mundo próprio ao lado do outro, um lugar que ele considerou firme o bastante para, a partir dele, tirar dos eixos o mundo restante e se tornar seu senhor. Na medida…
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“Falo de instinto quando algum juízo (gosto [Geschmack] em seu mais baixo degrau) é incorporado (einverleibt); de modo que ele agora excita espontaneamente a si mesmo, e não precisa mais esperar por estímulos. Ele tem seu crescimento por si, e por consequência também seu senso de atividade (Thätigkeits-Sinn) impelindo para fora. Estágio intermediário: o semi-instinto,…
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A este respeito, analogia entre as posições de Nietzsche e Dostoiévski mal pode ser exagerada: o hiperdesenvolvimento da consciência (apanágio do europeu moderno) é uma doença. Justamente em razão do extremo desenvolvimento de sua consciência, o homem culto do século XIX é um ente abstrato, diretamente deduzido do plano das ideias, como que destilado de…
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Affectus é o participio passado do verbo afficêre — que significa impressionar, produzir uma impressão, uma paixão (πατός), afetar. Vincula-se, assim, ao domínio semântico de αίσθηση — αισθητική, designando a sensibilidade, a sensação, a capacidade de sofrer afecções. Essa última é a acepção empregada por Kant na Estética Transcendental da Crítica da Razão Pura. […]…
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“‘Mas, se tudo é necessário, como posso eu dispor de minhas ações’? O pensamento e a crença são uma gravidade que, ao lado de todos os outros pesos, exercem pressão sobre ti e mais do que eles. Tu dizes que o alimento, o lugar, o ar, a sociedade te modificam e determinam? Ora, tuas opiniões…
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A Psicologia do ressentimento é um dos temas mais instigantes da filosofia madura de Nietzsche; situa-se no centro de sua Genealogia da Moral (GM) e é, por certo, amplamente considerado pela fortuna crítica. Um percurso pelo fértil campo de questões que o cerca exige a explicitação prévia do conceito de Gewissen (consciência moral), cuja derivação…
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Muitos países viu Zaratustra, e muitos povos: assim descobriu o bem e o mal de muitos povos. Zaratustra não achou maior poder na terra do que bem e mal. Nenhum povo poderia viver sem antes avaliar; mas, querendo se manter, não pode avaliar como seu vizinho. Muito do que esse povo considerava bom, outro considerava…
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2. Mal dissera essas palavras, Zaratustra caiu como um morto e por muito tempo ficou como um morto. Quando voltou a si, estava pálido, tremia, permaneceu deitado no chão e por muito tempo não quis comer ou beber. Nesse estado ficou sete dias; mas seus animais não o abandonaram nem de dia nem de noite,…
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A bela aparência do mundo do sonho, em cuja produção cada ser humano é um artista consumado, constitui a precondição de toda arte plástica, mas também, como veremos, de uma importante metade da poesia. Nós desfrutamos de uma compreensão imediata da figuração, todas as formas nos falam, não há nada que seja indiferente e inútil.…
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5. Já no prefácio a Richard Wagner é a arte — e não a moral — apresentada como a atividade propriamente metafísica do homem; no próprio livro retorna múltiplas vezes a sugestiva proposição de que a existência do mundo só se justifica como fenômeno estético. De fato, o livro todo conhece apenas um sentido de…
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L’ouvrage de Schopenhauer, dont le titre récapitule l’ensemble de la philosophie moderne, s’ouvre par la proposition : « Le monde est ma représentation. » Si cette thèse vaut, selon Schopenhauer, pour tout être vivant et connaissant, c’est exclusivement chez l’homme qu’elle peut faire l’objet d’une conscience réfléchie. La représentation, corrélation pure du sujet et de…
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13. — Mas voltemos atrás: o problema da outra origem do “bom”, do bom como concebido pelo homem do ressentimento, exige sua conclusão. — Que as ovelhas tenham rancor às grandes aves de rapina não surpreende: mas não é motivo para censurar às aves de rapina o fato de pegarem as ovelhinhas. E se as…
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373 — O preconceito “científico” — As leis da hierarquia proíbem aos sábios que pertencem à classe intelectual média distinguir os grandes problemas, os verdadeiros pontos de interrogação; nem a sua coragem nem a sua vista podem, de resto, ir assim muito longe; é preciso dizer sobretudo isto: que a necessidade que os leva às…
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432. Investigadores e experimentadores. — Não existe um método da ciência que seja o único a levar ao saber! Temos que lidar experimentalmente com as coisas, sendo ora maus, ora bons para com elas e agindo sucessivamente com justiça, paixão e frieza em relação a elas. Esse homem dirige-se às coisas como policial, aquele como…
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204. Correndo o risco de que também aqui o moralizar se revele o que sempre foi — um impávido montrer ses plaies [mostrar suas chagas], como diz Balzac —, ousarei me opor a uma imprópria e funesta inversão hierárquica que, de modo totalmente despercebido e como que de consciência tranquila, ameaça hoje estabelecer-se entre a…
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“Não quero persuadir ninguém a fazer filosofia: é necessário, talvez mesmo desejável, que o filósofo permaneça uma planta rara. Nada me é mais repulsivo do que o elogio pedagógico da filosofia, tal como o encontramos em Sêneca ou, pior, em Cícero. Filosofia tem pouco a ver com virtude. Seja-me permitido dizer que mesmo o homem…
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Para a psicologia da metafísica. — Este mundo é aparente — consequentemente, há um mundo verdadeiro. Este mundo é condicionado — consequentemente, há um mundo incondicionado. Este mundo é contraditório — consequentemente, há um mundo sem contradição. Este mundo está em devir — consequentemente, há um mundo que é. Meras conclusões falsas (confiança cega na…
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288 Moral como tentativa de produzir o orgulho humano. — A teoria do “livre-arbítrio” é antirreligiosa. Ela quer criar para o homem um direito de poder pensar-se como causa de seus mais altos estados e ações: ela é uma forma do crescente sentimento de orgulho. O homem sente o seu poder, sua “felicidade”, então diz…
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“Passo por entre este povo de olhos bem abertos; eles não me perdoam de não lhes invejar as virtudes. Querem morder-me, por eu lhes dizer que as pessoas pequenas necessitam de pequenas virtudes, e porque me é difícil conceber que sejam necessárias as pessoas pequenas. Estou aqui como galo em terreiro estranho, que até as…
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“Ainda há em algumas partes povos e rebanhos; mas não entre nós, meus irmãos; entre nós há Estados. Estado? Que é isso? Vamos! Abri os ouvidos, porque eu vos vou falar da morte dos povos. Estado chama-se o mais frio dos monstros frios. É frio também quando mente com aquela mentira rasteira que sai de…