Categoria: Descombes, Vincent
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(Descombes1995) As fórmulas clássicas da intencionalidade a apresentam como uma complicação da relação entre um sujeito e um objeto. Elas acabam, assim, por mascarar ou atenuar o que deveria, ao contrário, ser destacado: que a intencionalidade não é de modo algum uma espécie de transitividade 1. Mas, se descartarmos como enganadora a fórmula que apresenta…
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Vers une anthropologie comparative des démocraties modernes. Esprit, mai 2000. Entretien avec Vincent Descombes Vincent DESCOMBES — Talvez eu deva esclarecer desde o início que obviamente não estou tentando disfarçar meu trabalho, que é filosófico, como um estudo antropológico. É exatamente o contrário. Não acredito na “antropologia filosófica” que um filósofo poderia elaborar a priori…
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Para entender o significado dado à palavra “sujeito” no discurso filosófico a partir do final do século XVIII, temos que voltar, como nos diz Heidegger, aos pressupostos ontológicos da lógica clássica: o sujeito de uma proposição singular deve, pelo menos em última análise, representar uma substância. É por isso que o sujeito do ato cogitativo…
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Comecei perguntando: nós entendemos o que os filósofos têm chamado de sujeito há pelo menos dois séculos? Sabemos o que teríamos de ser para merecermos ser considerados sujeitos no sentido desses filósofos? Portanto, tivemos que nos perguntar de onde os filósofos tiram seu conceito de sujeito. Portanto, tivemos que retornar à proposição fundamental de toda…
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Dizem que a filosofia moderna da consciência descobriu a subjetividade ou a existência na primeira pessoa. Mas, se acreditarmos em Wittgenstein, ela não conseguiu reconhecer seu caráter específico, pois mantém uma observação na raiz de qualquer uso de um verbo psicológico. Como sei que o gato viu o pássaro? Observando-o (de fora). Como sei que…
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O que, no vocabulário técnico dos filósofos, é uma egologia? Esse termo é o nome dado por Husserl a uma disciplina que deve fundar a filosofia 1. Ricœur oferece a seguinte explicação: Husserl, em sua filosofia transcendental, queria elaborar “uma filosofia que seria apenas uma egologia e nunca uma ontologia”2. Em outras palavras, essa filosofia…
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Vários comentaristas recentes enfatizaram que Descartes, nas Meditações Metafísicas, escapou — pelo menos por um tempo, principalmente durante a Segunda Meditação — do que eles consideram ser as restrições da metafísica tradicional. Nesse ponto, a influência de Heidegger foi decisiva. Heidegger argumenta que as noções clássicas de ser e existência são equívocas. A filosofia herdada…
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Heidegger chamou a atenção para as duas maneiras de colocar a questão do “ser” de alguém em relação ao que é, uma reificando, a outra apropriada ao fato de que estamos lidando com alguém e não com algo. De acordo com ele, quando alguém pergunta sobre si mesmo, sobre seu próprio ser, ele deve perguntar…
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O que é o eu? Se um homem fica em uma janela para olhar os transeuntes, posso dizer que ele ficou ali para olhar para mim? Não, porque ele não está pensando em mim em particular. Mas se você ama alguém por causa de sua beleza, você o ama? Não, porque a varíola, que mata…
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Atualmente, os filósofos franceses usam a palavra “ipséité” (ipseidade) para traduzir o termo alemão Selbstheit. No léxico da fenomenologia hermenêutica, Selbstheit é o termo usado para designar a relação consigo mesmo em virtude da qual cada um de nós é a pessoa que é, é nós mesmos. “Cada um de nós”: o nós aqui engloba…
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Como vemos a nós mesmos? Toda uma tradição filosófica responde que precisamos questionar “nossa consciência”. Se fizermos isso, explica essa tradição, que pode ser descrita como egológica, descobriremos que essa consciência se torna “consciência de si” quando toma o próprio sujeito como seu objeto e o reconhece como tal. O sujeito da consciência é seu…
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No século XX, esta forma de conceber a filosofia moderna e a relação dos pensadores modernos com a filosofia antiga foi objeto de uma crítica radical por parte de Heidegger. Na sua opinião, os filósofos modernos não devem ser tomados à letra quando afirmam ter finalmente identificado a essência da subjetividade ou do si-mesmo (Ichheit,…
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A primeira decisão é a de traduzir “das Ich” como “Eu” [Je] ou “eu” [Moi]. Balibar defende a escolha de Foucault, que fala de possuir o Eu (maiúsculo!) na sua representação. De fato, escreve, “o poder de que Kant fala aqui não é o de descrever um objeto (que é a própria pessoa), é o…
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Não podemos dizer que somos sujeitos ou que não o somos, porque ninguém ainda explicou o que seria aplicar o termo como deveria ser entendido na “filosofia do sujeito” (p. 13). Nem os apoiadores nem os oponentes do sujeito sabem o que estão dizendo. O conceito de sujeito, como usado na discussão, é um conceito…
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Num atalho impressionante, Ortigues indica que é precisamente essa nova concepção de inteligibilidade — entendemos do que estamos falando se decidimos falar apenas daquilo que livremente colocamos “como objeto” — que permitiu a transferência da noção comum (isto é, latina) de consciência do domínio moral que até então era dela até o domínio teórico. Pois…
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1) Uma questão de gramática filosófica: quais diferenças notáveis existem, do ponto de vista do emprego, entre estas palavras que nós preguiçosamente colocamos em uma única categoria de pronomes pessoais (e particularmente aqui eu, mim, ele/ela, si). 2) Uma questão de filosofia da ação: qual é o status das intenções de agir? Eles são principalmente…
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Por sua vez, as nossas volições são de duas espécies; umas são ações da alma que se confinam na própria alma, como quando queremos amar Deus, ou de uma maneira geral aplicar o nosso pensamento a qualquer objeto não material; as outras são ações que se estendem ao nosso corpo, como quando, só porque temos…
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Desde a época de Descartes, um novo personagem ocupa a cena filosófica: o eu (enquanto outros personagens eclipsam, como o intelecto agente e logo a alma). De onde ele vem? De que alquimia os filósofos conseguiram extrair do material vulgar que é nossa conversa interna comum este ser desse filosofal que prontamente descrevemos como “eu…