Categoria: Deleuze, Gilles

  • GDPli As massas e os organismos, os aglomerados e os seres vivos preenchem o andar de baixo. Então, porque é que precisamos de outro andar, uma vez que as almas sensíveis ou animais já lá estão, inseparáveis dos corpos orgânicos? Cada alma parece mesmo localizável no seu corpo, desta vez como um “ponto” numa gota,…

  • Uma coisa nos preocupa mais uma vez: a história de Édipo. Pois Édipo no mundo grego é quase único. Toda a primeira parte é imperial, despótica, paranoica, interpretativa, divinatória. Mas toda a segunda parte é a errância de Édipo, sua linha de fuga no duplo desvio, de seu próprio rosto e do rosto de Deus.…

  • Falamos de Sartre como se ele pertencesse a uma época acabada. Mas ai! Nós é que estamos já acabados na ordem moral e no conformismo atual. Pelo menos Sartre nos permite uma vaga espera dos momentos futuros, de retomadas nas quais o pensamento se reformará e refará suas totalidades, como potência ao mesmo tempo coletiva…

  • Gerações sem “mestres” são uma tristeza. Nossos mestres não são apenas os professores públicos, ainda que tenhamos uma grande necessidade de professores. No momento em que atingimos a idade adulta, nossos mestres são aqueles que nos tocam com uma novidade radical, aqueles que sabem inventar uma técnica artística ou literária e encontrar as maneiras de…

  • Encontra-se muitas vezes, entre os autores modernos mais importantes, um pensamento que tem o duplo aspecto de uma constatação e de uma profecia: a metafísica está e deve ser ultrapassada. A filosofia, à medida que seu destino é concebido como metafísico, dá e deve dar lugar a outras formas de pensamento, a outros modos de…

  • Zaratustra não cessa de dizer a seus “visitantes”: vocês falharam, são naturezas falhas. É preciso compreender essa expressão no sentido mais forte: não é o homem que não consegue ser homem superior, não é o homem que falha ou malogra seu objetivo, não é a atividade do homem que falha ou malogra seu produto. Os…

  • Desde a Phénoménologie de l’expérience esthétique (P.U.F., 1953), Mikel Dufrenne fazia uma espécie de analítica dos a priori perceptivos e afetivos, que fundavam a sensação como relação do corpo e do mundo. Permanecia próximo de Erwin Straus. Mas há um ser de sensação que se manifestaria na carne? Era a via de Merleau-Ponty no Le…

  • Hegel e Heidegger permanecem historicistas, na medida em que tomam a história como uma forma de interioridade, na qual o conceito desenvolve ou desvela necessariamente seu destino. A necessidade repousa sobre a abstração do elemento histórico tornado circular. Compreende-se mal então a imprevisível criação dos conceitos. A filosofia é uma geo-filosofia, exatamente como a história…

  • Também Heidegger desloca o problema, e situa o conceito na diferença entre o Ser e o ente, antes que naquela do sujeito e do objeto. Ele considera o grego como (123) autóctone, antes que como livre cidadão (e toda a reflexão de Heidegger sobre o Ser e o ente se aproxima da Terra e do…

  • Heidegger mostra como a repetição da questão desenvolve-se no liame do problema com a repetição: “Por repetição de um problema fundamental, entendemos a explicitação das possibilidades que ele encobre. O desenvolvimento destas tem o efeito de transformar o problema considerado e, deste modo, conservar seu conteúdo autêntico. Conservar um problema significa liberar e salvaguardar a…

  • Se a filosofia começa com a criação de conceitos, o plano de imanência deve ser considerado como pré-filosófico. Ele está pressuposto, não da maneira pela qual um conceito pode remeter a outros, mas pela qual os conceitos remetem eles mesmos a uma compreensão não-conceitual. Esta compreensão intuitiva varia ainda segundo a maneira pela qual o…

  • Assim narrada, a história nos leva à mesma conclusão: o niilismo negativo é substituído pelo niilismo reativo, o niilismo reativo acaba no niilismo passivo. De Deus ao assassino de Deus, do assassino de Deus ao último dos homens. Mas esse resultado é o saber do adivinho. Antes de chegar lá, quantos avatares, quantas variações sobre…

  • Ao colocar o pensamento no elemento do sentido e do valor, ao fazer do pensamento ativo uma crítica da tolice e da baixeza, Nietzsche propõe uma nova imagem do pensamento. Pensar nunca é o exercício natural de uma faculdade. O pensamento nunca pensa sozinho e por si mesmo; como também nunca é simplesmente perturbado por…

  • Nietzsche chama de niilismo o empreendimento de negar a vida, de depreciar a existência; analisa as formas principais do niilismo: ressentimento, má consciência, ideal ascético; chama de espírito de vingança o conjunto do niilismo e de suas formas. Ora, o niilismo e suas formas não se reduzem absolutamente a determinações psicológicas, muito menos a acontecimentos…

  • Estamos em uma crise generalizada em relação a todos os ambientes de enclausuramento – prisão, hospital, fábrica, escola, família. A família é um “interior”, em crise como todos os outros interiores – acadêmicos, profissionais etc. As administrações encarregadas nunca deixam de anunciar reformas supostamente necessárias: reformar escolas, reformar indústrias, hospitais, forças armadas, prisões. Mas todo…

  • — Em Foucault e em A dobra parece que os processos de subjetivação são observados mais atentamente que em outras de suas obras. O sujeito é o limite de um movimento contínuo entre um dentro e um fora. Que consequências políticas tem essa concepção do sujeito? Se o sujeito não pode ser uma questão resolvida…

  • Eis, pois, o que é a Ética, isto é, uma tipologia dos modos de existência imanentes (breve121), substitui a Moral, a qual relaciona sempre a existência a valores transcendentes. A moral é o julgamento de Deus, o sistema de Julgamento. Mas a Ética desarticula o sistema do julgamento. A oposição dos valores (Bem/Mal) é substituída…

  • Um processo de subjetivação, isto é, uma produção de modo de existência, não pode se confundir com um sujeito, a menos que se destitua este de toda interioridade e mesmo de toda identidade. A subjetivação sequer tem a ver com a “pessoa”: é uma individuação, particular ou coletiva, que caracteriza um acontecimento (uma hora do…

  • A Patafísica (epi meta ta phusika) tem precisa e explicitamente o seguinte objeto: a grande Virada, a superação da metafísica, o remontar para além ou para aquém, “a ciência do que se acrescenta à metafísica, seja em si mesma, seja fora de si, estendendo-se tão longe para além da metafísica quanto esta da física”1. Desse…

  • Sendo o saber constituído por duas formas, como haveria intencionalidade de um sujeito em direção a um objeto, se cada uma das formas tem seus objetos e seus sujeitos?1 E, entretanto, é necessário uma relação entre as duas formas que seja determinável e que saia de sua “não-relação”. O saber é ser, é a primeira…