Categoria: Byung-Chul Han

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  • A ideia de liberdade do primeiro romantismo representa um corretivo, ou um antídoto contra a liberdade individual atual. Essa ideia se baseia não no Se-querer ou na vontade de Si, mas no ser-Com ou no querer-Com: “O querer-Com […] é o abrir-se a e o deixar-se cair no Ser. O ser-Com é um dever, mas…

  • Em oposição ao “Ser”, a ação vê “em todo o universo apenas o humano como centro de todas as relações, como condição de todo ser e causa de todo vir-a-ser”1. A ação nunca chega ao “Ser”, “onde todo conflito cessa, onde Tudo é Um”2. A ação traz consigo uma ausência de ser. Hölderlin torna o…

  • A sociedade se consuma, segundo Arendt, na sociedade de massas moderna: “A sociedade de massas mostra a vitória da sociedade em geral”1. Na sociedade de massas moderna, concretiza-se um “império do ninguém”. O “alguém”, como sujeito da ação, é reprimido. Em muitos aspectos, o império do ninguém se assemelha àquela ditadura do “impessoal”, que Heidegger…

  • Na sua viagem à Grécia, Heidegger tem em mente a acrópole quando escreve sobre a polis: “[…] Essa polis não conhecia, assim, a subjetividade como medida de toda objetividade. Ela se submetia ao jugo dos deuses, que, por sua vez, estavam submetidos ao destino, à Moira” (GA75:251). Arendt reinventa a polis grega ao apresentá-la como…

  • Em vista das ameaçadoras catástrofes naturais, a “proteção ao meio ambiente” é um conceito muito precário. É necessária uma relação radicalmente transformada com a natureza. A Terra não é nenhum “recurso” com que teríamos de lidar de modo mais “sustentável”. Antes, temos de assimilar o significado originário de preservar. Heidegger o compreende novamente a partir…

  • O pensar já é sempre disposto; ou seja, exposto a uma disposição que o fundamenta. A fundamentação pré-reflexiva do pensar precede todo pensamento: “Todo pensar essencial exige que seus pensamentos e proposições sejam extraídos renovadamente, como minério, da disposição fundamental” (GA65:26). Heidegger se esforça, por isso, para descobrir, no pensar, o âmbito da passividade. Admite-se,…

  • O indizível que a linguagem evita não é uma figura de pensamento do Extremo Oriente. Por outro lado, no discurso ocidental ele é muito difundido. Às vezes, a linguagem é abandonada em prol de um resquício apenas cantável, como fariam, por exemplo, Celan ou Heidegger. Apenas o silêncio está à altura daquele resquício sagrado, que…

  • No último capítulo da Crítica da razão prática, Kant caracteriza a ciência como uma doutrina da sabedoria: “a ciência (buscada criticamente e introduzida metodicamente) é a porta estreita que conduz à doutrina da sabedoria”1. A filosofia, segundo Kant, é a guardiã dessa ciência rigorosa. No entanto, na falta da matemática, ela trabalha com um método semelhante…

  • A sobredimensionalização das coisas de Zhuang Zhou não tem a intenção de gerar um sentimento do sublime, que surgiria pelo fato de o objeto ultrapassar a medida imaginável. Kant chama de “sublime” o que é “absolutamente grande” (absolute non comparative magnum), o que é “grande além de qualquer comparação” 1. O sentimento do sublime surge…

  • RF: Qual o papel da filosofia face ao inferno do igual? BCH: A filosofia é para mim a tentativa de projetar uma forma de vida totalmente outra, de experimentar ao menos no pensamento um outro projeto de vida. Aristóteles nos indicou isso. Ele criou a vida contemplativa. Hoje, a filosofia está bem distante dela. Ela…

  • RF: E tudo isso você compreende como um resultado da nova tecnologia? BCH: O que significa, pois, digital? Digital vem da palavra digitus que em latim significa dedo. No digital o fazer humano é reduzido à ponta do dedo. Faz já um bom tempo que a atividade humana está associada com a mão. A palavra…

  • A sociedade do desempenho atual toma o próprio tempo como refém. Ela o amarra ao trabalho. A pressão por desempenho cria então uma pressão por aceleração. O trabalho como tal não é necessariamente destrutivo. Pode, como diria Heidegger, levar a um “cansaço duro, mas saudável”. Já a pressão pelo desempenho produz, contudo, mesmo quando na…

  • A tese da secularização cega Agamben para aquilo que é específico de um fenômeno, que já não permite ser reduzido à práxis religiosa e até se contrapõe a ela. Pode ser que no museu as coisas sejam “separadas por escolha” como no templo. A musealização e exposição das coisas aniquila precisamente seu valor cultural em…

  • Martin Heidegger, en la famosa conferencia La cosa, habla también del cántaro de una manera muy poco convencional. Con el ejemplo del cántaro Heidegger aclara allí qué es propiamente la cosa. Primero llama la atención sobre el vacío del cántaro: ¿Cómo aprehende el vacío del cántaro? Aprehende en cuanto toma lo que es vertido. Aprehende…

  • Heidegger también intenta pensar el mundo a manera de relación. Cielo y tierra, los divinos y los mortales no son realidades fijas, substanciales. Se penetran, se reflejan los unos dentro de los otros. Ninguno de los cuatro se queda rígido en su peculiaridad separada. Más bien, cada uno de los cuatro, dentro de su unión,…

  • Os caçadores digitais de informação estarão sempre andando com os seus Google Glass. Esses óculos de dados substituem as lanças, os arcos e as flechas dos caçadores paleolíticos. O Google Glass liga o olho humano diretamente à internet. Seus usuários, por assim dizer, veem a tudo. Eles introduzem a era da informação total. O Google…

  • Os gregos chamavam a tortura de ἀυάγκαι. ἀναγαῖος, que significa “necessário” ou “indispensável”. A tortura era percebida e tida como um destino ou uma lei da natureza (ἀυάγκη). Aqui temos diante de nós uma sociedade que sanciona a violência psíquica como meio para um fim. É uma sociedade do sangue, que deve ser distinguida da…