Candide de Voltaire

Chaui1981

Candide é um libelo contra a intolerância em sua forma mais grotesca e cruel: o otimismo leibniziano. Desprovido de proporção e de medida, o mundo percorrido por Cândido e seus amigos é irracional, mas não é desprovido de sentido. Porém, o que Voltaire jamais poderá admitir é que esse sentido seja oferecido por uma teodiceia. O melhor dos mundos possíveis não é apenas uma fábula de mau gosto, nem mais um erro da filosofia, mas superstição e burrice.

O curioso, porém, é que as andanças de Cândido, destinadas a torná-lo senhor de sua razão, homem sensato e tolerante, não o transformam num Ilustrado. A pequena sociedade tolerante que cultiva silenciosamente o jardim descobriu a virtude burguesa por excelência: o trabalho honesto de cada dia. É essa descoberta que sustenta o elogio voltaireano da tolerância.