Byung-Chul Han (2023) – a inteligência artificial não pode pensar

O pensar já é sempre disposto; ou seja, exposto a uma disposição que o fundamenta. A fundamentação pré-reflexiva do pensar precede todo pensamento: “Todo pensar essencial exige que seus pensamentos e proposições sejam extraídos renovadamente, como minério, da disposição fundamental” (GA65:26). Heidegger se esforça, por isso, para descobrir, no pensar, o âmbito da passividade. Admite-se, aí, que o pensar, em seu âmago, é um pathos: “[…] pathos está ligado com paschein, sofrer, aguentar, suportar, entregar, deixar-se carregar, deixar-se de-finir por [algo]” (GA8:26).

Já por isso a inteligência artificial não pode pensar, pois ela não é capaz do pathos. Padecer e sofrer são estados que não podem ser alcançados por nenhuma máquina. À máquina, a inatividade contemplativa é, sobretudo, estranha. Ela conhece apenas dois estados: ligada e desligada. O estado contemplativo não surge quando a função é simplesmente desativada.

A máquina, na verdade, não é nem ativa nem inativa. Atividade e inatividade se comportam como luz e sombra. A sombra dá forma à luz. Ela lhe dá contornos. Sombra e luz se condicionam mutuamente. Assim, atividade e inatividade também se deixam compreender como dois estados ou modos do pensar do espírito. O pensar se tece por meio da luz e da sombra. A inteligência maquinal, em contrapartida, não conhece nem luz nem sombra. Ela é transparente. (ByungVC)