Berkeley (TPCH) – sentido de coisa, realidade, existência

89. Nada parece mais importante para construir um sistema de sólido e real conhecimento, à prova do ataque do ceticismo, do que principiar por distinguir claramente o sentido de coisa, realidade, existência. É vã toda discussão sobre a existência real de coisas ou qualquer pretensão a esse conhecimento sem ter fixado o sentido daquelas palavras. Coisa ou Ser é o termo mais geral; compreende duas espécies distintas e heterogêneas, que só têm comum o nome: espíritos e ideias; os primeiros são substâncias ativas e indivisíveis; as segundas, seres inertes, transitórios, dependentes, não subsistentes em si mas em espíritos ou substâncias espirituais. Compreendemos a nossa existência por intuição ou reflexão; a dos outros espíritos pela razão. Pode dizer-se termos algum conhecimento ou noção do nosso próprio espírito e seres ativos mas em estrito sentido não temos ideias deles. Semelhantemente, conhecemos e temos noção de relações entre coisas ou ideias, distintas das ideias ou coisas correlatas tanto quanto podemos perceber as últimas sem perceber as anteriores. A mim parece-me que ideias, espíritos e relações são na sua respectiva espécie o objeto do conhecimento humano e o sujeito do discurso; e que o termo ideia seria impropriamente aplicado a cada coisa conhecida ou de que temos noção. (TPCH)