Berkeley (TPCH) – espíritos não são percebidos

27. Um espírito é um ser simples, indivíduo, ativo; quando percebe ideias chama-se entendimento e quando produz ou de outro modo opera com elas chama-se vontade; daqui não haver ideia de alma ou espírito; porque, sendo passivas e inertes, as ideias (v. § 25) não podem representar para nós, por meio de imagem ou semelhança, aquilo que age. Uma breve atenção mostra a impossibilidade de uma ideia semelhante a um princípio de movimento e mudança de ideias. Tal é a natureza do espírito, daquilo que atua, que não pode ser percebido de si mesmo e apenas pelos efeitos produzidos. Se alguém duvida desta verdade, reflita e tente fazer ideia de uma força ou ser ativo e se tem ideia de duas forças principais chamadas vontade e entendimento, distintas entre si, assim como de uma terceira ideia de substância ou ser em geral, com a noção relativa do seu suporte ou sujeito das referidas forças, que tem o nome de alma ou espírito. Isto é o que alguns defendem; mas, tanto quanto posso julgar, as palavras vontade, alma, espírito não significam ideias diferentes nem, na verdade, ideia alguma, senão algo diferente das ideias e que sendo agente não pode ser semelhante a ou representado por uma ideia qualquer. Embora deva dizer-se ao mesmo tempo que temos alguma noção de alma, espírito, e das operações do espírito, como querer, amar, odiar; assim como sabemos ou compreendemos o sentido destas palavras.