23. Mas – dir-me-eis – nada mais fácil do que imaginar por exemplo árvores em um parque, ou livros em uma estante e ninguém para percebê-los. Respondo que na verdade não é difícil; mas que é isso senão formardes no espírito certas ideias a que dais nome de livros e árvores, omitindo ao mesmo tempo formar ideia daquilo que os percebe? Mas não pensais vós mesmos neles durante esse tempo? Isto, portanto, nada importa ao caso. Só mostra que podeis formar ideias no vosso espírito, mas não que os objetos do vosso pensamento existam fora do espírito. Para contestá-lo é necessário que os concebais existentes e não pensados, o que evidentemente repugna. Ao esforçarmo-nos no máximo para conceber a existência de corpos externos, contemplamos sempre e somente as nossas próprias ideias. Mas como o espírito não se conhece a si mesmo, ilude-se crendo conceber corpos existentes e não pensados ou fora do espírito embora ao mesmo tempo sejam por ele apreendidos ou existam nele. Uma breve atenção mostra a verdade evidente do que fica dito e desnecessita a insistência em demonstrar a inexistência da substância material. (TPCH)