Apresentação (Gabriel Marcel)

GMarcel1950

Heidegger, no ensaio ao qual aludi no início desta palestra [Da Essência da Verdade (GA9)], destacou a importância da noção de abertura para qualquer teoria da verdade — ou talvez a noção de estar aberto. Sua palavra em alemão é “Offenständigkeit”, e os tradutores franceses cunharam “aperité” como equivalente. O que ele realmente busca é encontrar uma base de possibilidade para aquela adequação entre a mente e a coisa que constitui um juízo verdadeiro em si mesmo.

Eis um pedaço de metal: eu o descrevo corretamente quando digo que tal é sua forma, tal sua cor, tal seu valor de mercado, e assim por diante. Admitindo que minha descrição seja exata, o significado dessa “exatidão” é precisamente o que Heidegger procura definir. Um juízo sobre uma coisa, na medida em que é um juízo adequado, estabelece em relação a ela uma relação particular que pode ser expressa pela fórmula: “tal… que…” (É tal coisa que possui certas qualidades, é tal X que também é um Y.) A essência dessa relação é o que Heidegger chama, não de representação, mas de “apresentação”.

Apresentar é “permitir que a coisa surja diante de nós sob a forma deste ou daquele objeto, mas de tal [70] maneira que o juízo se deixe guiar pela coisa e a expresse exatamente como ela se apresentou”. Uma condição necessária para toda apresentação é que o ser que apresenta esteja colocado no meio de uma luz que permita que algo lhe apareça, que lhe seja manifestado. Esse “algo” deve abranger ou atravessar um domínio aberto ao nosso encontro.