Agamben (1995:Intro) – bios e zoe

Henrique Burigo

Os gregos não possuíam um termo único para exprimir o que nós queremos dizer com a palavra vida. Serviam-se de dois termos, semântica e morfologicamente distintos, ainda que reportáveis a um étimo comum: zoe, que exprimia o simples fato de viver comum a todos os seres vivos (animais, homens ou deuses) e bios, que indicava a forma ou maneira de viver própria de um indivíduo ou de um grupo. Quando Platão, no Filebo, menciona três gêneros de vida e Aristóteles, na Ethica nicomachea, distingue a vida contemplativa do filósofo (bios theoretikos) da vida de prazer (bios apolaustikos) e da vida política (bios politikos), eles jamais poderiam ter empregado o termo zoé (que, significativamente, em grego carece de plural) pelo simples fato de que para ambos não estava em questão de modo algum a simples vida natural, mas uma vida qualificada, um modo particular de vida. Aristóteles pode decerto falar, referindo-se ao Deus, de uma zoe ariste kai aidios, vida mais nobre e eterna (Met. 1072b, 28), mas somente enquanto pretende sublinhar o fato não banal de que até mesmo Deus é um vivente (assim como, no mesmo contexto, serve-se do termo zoe para definir, de modo igualmente pouco trivial, o ato do pensamento); mas falar de uma zoe politike dos cidadãos de Atenas não teria feito sentido. Não que o mundo clássico não tivesse familiaridade com a ideia de que a vida natural, a simples zoé como tal, pudesse ser em si um bem. Em um trecho da Política (1278b, 23-31), depois de haver recordado que o fim da cidade é viver segundo o bem, Aristóteles exprime, aliás, com insuperável lucidez esta consciência:

Este (o viver segundo o bem) é o fim supremo seja em comum para todos os homens, seja para cada um separadamente. Estes, porém, unem-se e mantêm a comunidade política até mesmo tendo em vista o simples viver, porque existe provavelmente uma certa porção de bem até mesmo no mero fato de viver (kata to zen auto monon), se nãoum excesso de dificuldades quanto ao modo de viver (katà ton bíon), é evidente que a maior parte dos homens suporta muitos sofrimentos e se apega à vida (zoe), como se nela houvesse uma espécie de serenidade (euemeria, belo dia) e uma doçura natural.

A simples vida natural é, porém, excluída, no mundo clássico, da pólis propriamente dita e resta firmemente confinada, como mera vida reprodutiva, ao âmbito do oikos (Pol. 1252a, 26-35). No início de sua Política, Aristóteles usa de todo zelo para distinguir o oikonomos (o chefe de um empreendimento) e o despotes (o chefe de família), que se ocupam da reprodução da vida e de sua subsistência, do político e escarnece daqueles que imaginam que a diferença entre eles seja de quantidade e não de espécie. E quando, em um trecho que deveria tornar-se canônico para a tradição política do Ocidente (1252b, 30), define a meta da comunidade perfeita, ele o faz justamente opondo o simples fato de viver (to zên) à vida politicamente qualificada (tò eû zên): ginoméne mèn oùn toû zên béneken, oûsa dè toû eû zên “nascida em vista do viver, mas existente essencialmente em vista do viver bem” (na tradução latina de Guilherme de Moerbeke, que tanto Tomás como Marsílio de Pádua tinham diante dos olhos: facta quidem igitur vivendi gratia, existem autem gratia bene vivendi).

Original

I Greci non avevano un unico termine per esprimere ciò che noi intendiamo con la parola vita. Essi si servivano di due termini, semanticamente e morfologicamente distinti, anche se riconducibili a un etimo comune: zoé, che esprimeva il semplice fatto di vivere comune a tutti gli essere viventi (animali, uomini o dèi) e bios, che indicava la forma o maniera di vivere propria di un singolo o di un gruppo. Quando Platone, nel Filebo, menziona tre generi di vita e Aristotele, nell’Etica nicomachea, distingue la vita contemplativa del filosofo (bios theorèticós) dalla vita di piacere (bios apolausticós) e dalla vita politica (bios politicós), essi non avrebbero mai potuto servirsi del termine zoé (che, significativamente, in greco manca di plurale) per il semplice fatto che per entrambi non era in questione in alcun modo la semplice vita naturale, ma una vita qualificata, un particolare modo di vita. Aristotele può certo parlare, rispetto al Dio, di una zoé ariste cai aidios, vita più nobile ed eterna (Met. 1072b, 28), ma solo in quanto intende sottolineare il fatto non banale che anche Dio è un vivente (così come, nello stesso contesto, si serve del termine zoé per definire, in modo altrettanto poco triviale, l’atto del pensiero); ma parlare di una zoé politiké dei cittadini di Atene non avrebbe avuto senso. Non che il mondo classico non avesse familiarità con l’idea che la vita naturale, la semplice zoé come tale, potesse essere in sé un bene. In un passo della Politica (1278b, 23-31), dopo aver ricordato che il fine della città è il vivere secondo il bene. Aristotele esprime, anzi, con insuperabile lucidità questa consapevolezza:

Questo (il vivere secondo il bene) è massimamente il fine, sia in comune per tutti gli uomini, sia per ciascuno separatamente. Essi, però, si uniscono e mantengono la comunità politica anche in vista del semplice vivere, perché vi è probabilmente una qualche parte di bene anche nel solo fatto di vivere (catà to zèn auto mónon); se non vi è un eccesso di difficoltà quanto al modo di vivere (catà ton bion), è evidente che la maggior parte degli uomini sopporta molti patimenti e si attacca alla vita (zoé), come se vi fosse in essa una sorta di serenità (euëmeria, bella giornata) e una dolcezza naturale.

La semplice vita naturale è, però, esclusa, nel mondo classico, dalla pòlis in senso proprio e resta saldamente confinata, come mera vita riproduttiva, nell’ambito dell’oìcos (Poi. 1252 a, 26-35). All’inizio della sua Politica, Aristotele pone ogni cura nel distinguere l’oiconómos (il capo di un’impresa) e il despotes (il capofamiglia), che si occupano della riproduzione della vita e della sua sussistenza, dal politico e schernisce coloro che immaginano che la differenza fra di essi sia di quantità e non di specie. E quando, in un passo che doveva restare canonico per la tradizione politica dell’Occidente (1252b, 30), egli definisce il fine della perfetta comunità, lo fa proprio opponendo il semplice fatto di vivere (to zen) alla vita politicamente qualificata (to eu zèn) :ginoménë men oun tou zèn éneken, oûsa de tou eu zên «nata in vista del vivere, ma esistente essenzialmente in vista del vivere bene» (nella traduzione latina di Guglielmo di Moerbeke, che tanto Tommaso che Marsilio da Padova avevano davanti agli occhi: facta quidem igitur vivendi gratia, existens autem gratia bene vivendi).

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