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Santos Almas
domingo 20 de março de 2022
ALGUNS SÍMBOLOS RELIGIOSOS
AS ALMAS
Segundo o animismo, a religião derivaria do culto dos antepassados. Sem discutir propriamente a doutrina animista, podemos dizer que se funda em certas positividades sem excluir outras de outras doutrinas, as quais, por sua vez, não são suficientes. para conceder-lhe o título de verdadeira, mas apenas o de não ser totalmente falsa. Realmente, em todos os povos, atribui-se aos mortos um certo poder, tanto para o bem como para o mal.
Se este poder não é atribuído a todos, é atribuído, no entanto, a alguns.
A morte provoca no homem o espanto que antecede ao mistério, porque é ela um assinalar de algo que ultrapassa a compreensão comum.
Uma vida que se agitou, pensou, amou, sofreu e que, subitamente, parece-nos inanimada, em decomposição, provoca em todos os seres um espanto, cujas raízes são muito mais profundas, cuja compreensão nem sempre é fácil de alcançar. O respeito aos mortos atravessa todos os ciclos culturais, e impõe-se até nas épocas civilizadas.
Muitas foram as pesquisas feitas por famosos antropólogos sobre este tema de magna importância no campo das religiões. Desde que o homem aceite, como é universal, uma sobre-existência após a morte, a alma dos mortos, participando de outra realidade, participa de poderes que os vivos precisam conjurar a seu favor ou anular pela oposição de outros poderes, que acaso possam mobilizar. Não é difícil compreender a simbólica que se estabelece aqui, pois as origens são de fácil captação. Nalgumas religiões, os anjos ou os demônios são almas dos mortos. Em todas elas, no entanto, há sempre a aceitação de entes mais poderosos do que os homens, intermediários entre o nosso poder e o poder supremo, ou seja, seres hierarquicamente superiores a nós que não são apenas mediadores, mas também ministradores (ministros) do poder supremo.
O exame que fizemos desses símbolos, dos mais usados nas diversas religiões, examinados segundo a dialética simbólica, por nós proposta nesta obra, permite-nos, com maior facilidade, perceber que as religiões não são um amontoado de superstições, como a visão deformada e primária dos séculos XVIII e XIX pretende estabelecer.
Há no conteúdo dos mitos, nos mitologemas, que são psicologicamente verdadeiros, fundamentos ontológicos, que o filósofo bem orientado não pode desconhecer nem desprezar.
A linguagem das religiões não é apenas aquela que exotericamente transparece nas suas práticas, rituais, liturgias, etc. É preciso entender e ouvir ao que elas apontam de mais longínquo. E se se procurar mais distantemente o que apontam não é difícil compreender-se que a Simbologia, como ciência filosófica, seguindo as normas que preconizamos, torna-se bastante hábil para cooperar na obra de concreção do saber epistêmico, em suma, na obra de concreção do saber culto, na obra de construção de uma filosofia concreta, como a que buscamos, e que não seja apenas um afanar-se em saber, mas uma construção positiva do pensamento humano, no bom sentido que os pitagóricos davam ao termo Mathesis, a instrução suprema, que é, em suma, o ideal e o escopo para que tende todo o nosso esforço no campo da filosofia.
Muitos poderão temer a nossa "audácia", mas preferimos pecar aqui por esse excesso do que pelo de timidez. De nossa parte, há a confiança de que fizemos o que é preciso fazer: cooperar para evitar a exacerbação da crise instalada no saber epistêmico, que tem aumentado os abismos em vez de resolvê-los, cuja culpa não podemos deixar de imputar a muitos daqueles que se julgam senhores do conhecimento por terem sido "investidos" apenas de um título, mas que nada mais fizeram do que proporcionar motivos para separar, em vez de cooperarem para a unificação que é, sem dúvida, o mais elevado ideal que pode animar um "amante da sabedoria" e não só do saber; um filósofo, em suma.